William Dorsey Swann foi a primeira Drag Queen dos EUA

William Dorsey Swann nasceu escravizado nas plantações de Hancock, em Maryland (EUA) em 1858. Quatro anos depois, aconteceu o fim da escravidão institucional no país. Seus pais compraram terras na região. Anos depois, William se mudou para a capital, Washington, em busca de salários mais altos. Lá, aprendeu a ler e escrever e trabalhou como garçom.
Sua infância e adolescência são pouco documentadas, mas seus feitos a partir de 1880 tornaram-se históricos. Ele ficou conhecido em Washington por organizar Bailes (Drag Ball) exclusivos para gays pretos ex-escravizados. O próprio se apresentava usando roupas femininas. Ficou conhecido pelos amigos como “The Queen” e os eventos como “House of Swann”. Ele se auto intitulou como uma Drag Queen – abreviação de Dressed As A Girl (Vestido como Uma Garota).

William Dorsey Swann @ Jason Tseng

Os bailes gays eram clandestinos e, quando descobertos pelas autoridades, os frequentadores eram presos. Os registros mostram que Swann foi preso pela primeira em setembro de 1882. A acusação era de roubar porcelanas, pratarias e outros artigos de festa. Cinco anos depois, passou outro período na prisão por ser uma “pessoa suspeita”.
O The Washington Post noticiou uma batida policial em 12 de abril de 1888, na qual, houve grande resistência. 17 pessoas conseguiram fugir, porém, “13 homens pretos vestidos com mulheres” foram presos. Entre elas, William Dorsey Swann.

É a primeira notificação no sistema legal dos EUA de uma resistência à prisão feita por alguém da comunidade LGBTQIPN+ do país. Ou seja, 81 anos antes da Revolta de Stonewall, em Nova York, em 28 de junho de 1969.

William Dorsey Swann @ Jeremy Whitner

Swann fez história em 1896 quando pediu o perdão ao Presidente Grover Cleveland por manter um Drag Ball. Esse pedido não foi atendido, mas marcou a história como a primeira vez que uma pessoa LGBTQIAP+ pleiteou seus direitos na justiça.
Na virada do século XX, Swann se recolheu no interior do país. Ele morreu em 1925 e sua casa foi destruída pelas autoridades — acabando com a maioria das evidências sobre sua trajetória.
Durante sua vida, William Dorsey Swann enfrentou o racismo, a homofobia e a truculência de um sistema que o via como um inimigo. Depois de sua morte, seu nome foi vítima da invisibilização histórica, um erro que só foi corrigido em anos recentes, quando sua iniciativa e resistência foram finalmente reconhecidas.

Gregory e Brown, dançando na festa Cake-Walk, em Paris, de 1903

Não existem fotos reais de Swann. As imagens que circulam em artigos a seu respeito são dos atores Gregory e Brown, dançando na festa Cake-Walk, em Paris, de 1903.
Porém, a imagem Swann ganhou interpretações de variados artistas visuais, como essa com Halo de Flores assinada por Jason Tseng.

A história de William Dorsey Swann ganhou uma biografia chamada “House of Swann: Where Slaves Became Queens – And Changed the World”, assinada pelo jornalista Channing Gerard Joseph. Será lançada em 2024.
O autor está desenvolvendo uma adaptação às telas em colaboração com o diretor Lee Daniels (“Preciosa” e “O Mordomo”) e com o produtor Bruce Cohen (“Milk” e “Beleza Americana”).