A influência de Sonia Delaunay na arte, moda e decoração do século XX

Pintora, Designer de Interiores, Ilustradora, Estilista e Figurinista, a ucraniana-francesa Sonia Delaunay é um dos nomes mais influentes na história da moda no século XX e XX1. Miuccia Prada, Junya Watanabe, Rei Kawakubo e Jean Paul Gaultier são alguns que referenciam a importância da geometria abstrata nas artes plásticas.
Sarah Ininitchna Stern (seu nome de batismo) nasceu em 14 de novembro de 1885, em Hradyzk Ucrânia – ainda pertencente ao Império Russo. Muito jovem se mudou para a São Petersburgo, onde foi amparada pelo irmão de sua mãe, o influente advogado Henri Terk e sua esposa Anna. A adoção aconteceu em 1890 e ela passou a adotar o nome de Sonia Terk, recebendo todo o apoio financeiro dos Terks. Eles passavam as férias de verão na Finlândia e viajavam por toda a Europa apresentando a garota museus e galeria de arte. Aos 16 anos, suas habilidades para o desenho foram notadas por um professor.

Sonia Delaunay @ reprodução

Por orientação do mesmo, aos 18, ela foi estudar na Academia de Belas Artes, em Karlsruhe, na Alemanha. Aos 20 anos, ela se mudou para Paris, onde começou a estudar na Academia de La Palette, em Montparnasse. Porém, não se adaptando aos métodos de ensino, ela passava mais tempo nas galerias de arte do que na sala de aula. Com forte influência dos pós-impressionistas Van Gogh e Henri Rousseau e dos favistas Henri Matisse e Derain, começou a desenhar.
No primeiro ano de escola, ela aceitou se casar por conveniência com o homossexual dono de uma galeria, Wilhelm Uhde. Graças à união, ela ‘entrou’ no mercado de artes. Aí… Ela conheceu Robert Delaunay, em 1909. Tornaram-se amantes. Ela engravidou, pediu divórcio e se casou com Robert em novembro de 1910. Charles Delaunay nasceu em janeiro de 1911.

Sonia Delaunay – Vestido patchwork, 1913 @ reprodução

No mesmo ano, ela produziu uma colcha de Patchwork com geometrias e cores. Hoje, essa peça faz parte da coleção do Museu de Arte Moderna em Paris. Críticos de arte reconheceram que esse foi o momento da mudança de perspectiva da artista. Naquele momento, obras do cubismo começaram a ser apresentadas em Paris e Robert estudou teorias da cor de Michel Eugène Chevreul. Começaram a aplicar em seus trabalhos, destacando a Cor como elemento chave da criação. Sonia pintou ‘Bal Bullier’, no qual ajustou o uso de cores ao conceito do movimento.
Em 1912, Robert e Sonia eram expoentes do Orfismo – também conhecido como cubismo lírico, movimento artístico inspirado no mito grego de Orfeu, que buscava formas puras na música. No mesmo período, Sonia conhece o poeta Blaise Cendrars, que se torna amigo e colaborador. Numa entrevista, ela revela que, ao conhecer o trabalho dele, ‘deu um empurrão, um choque’. Ela ilustrou um livro de poesias dele – seu primeiro trabalho como Designer.

Sonia Delaunay Marché au Minho, 1915 @ reprodução

O casal Delaunay resolveu visitar amigos em Madri, em 1914 – ano da explosão da Primeira Guerra Mundial. Eles permaneceram no país. Em agosto de 1915, eles se mudam para Portugal. Ela pintou ‘Marché au Minho’, inspirada pela beleza do país. No ano seguinte, ela ganhou sua primeira exibição solo em Estocolmo (Suécia).
O fim da Revolução Russa encerrou a ajuda financeira que Sonia recebia da família, obrigando-a a procurar outra fonte de renda. Em 1917, o casal encontra o empresário Sergei Diaghilev em Madri, que estava montando a Ópera ‘Cleopatra’. Sonia fez os figurinos, enquanto Robert, a cenografia. Em seguida, ela também fez os figurinos de ‘Aida’. Em Madri, ela decorou a casa noturna Petit Casino e abriu a Casa Sonia, que vendia suas criações de moda e decoração.

Sonia Delaunay Flamenco Dancer, 1916 @ reprodução

Em 1920, ela viajou para Paris procurando trabalho na indústria da moda. Escreveu para Paul Poiret em busca de emprego. Ele recusou, acusando que ela copiou suas roupas do balé ‘Atelier de Martine’, além de ter se casado com um desertor. No mesmo ano, uma galeria de Berlim apresentou sua obra. Em seguida, o casal e o filho voltam a morar em Paris. Os problemas financeiros foram resolvidos quando eles venderam ‘La Charmeuse de serpents’ de Henri Rousseau para Jacques Doucet.
Sonia fez roupas para clientes particulares e amigos e em 1923, ela lançou uma coleção para uma fábrica em Lyon, usando geometrias e profusão de cores. Mais tarde, ela abre sua própria empresa e regista sua marca.

Sonia Delaunay Roupas de Banho @ Reprodução

Naquele mesmo ano, ela faz os cenários e os figurinos da peça ‘Le Coeur à Gaz’. Em 1924, inaugurou seu estúdio em parceria com Jacques Heim, atendendo clientes como Gloria Swanson e Gabrielle Dorziat. Com Heim, ela participou de um Pavilhão Internacional de Exposição de Artes Decorativas da Moderna Indústria. Ela deu uma aula na Sorbonne falando sobre a influência da pintura na moda.
Ela assinou os figurinos dos filmes ‘Le Vertige’ e ‘Le p’tit Parigot’ e desenhou o mobiliário de ‘Parce que je t’aime’. Ela também ilustrou tecidos para uma coleção de Robert Perrier.

Sonia Delaunay Vogue @ reprodução

Na Grande Depressão, em 1929, Sonia encerrou seu negócio com moda, voltou a pintar e ilustrou peças publicitárias para Perrier e Metz & Co. No final de 1934, ela assinou a decoração de duas exposições de artes, com direito a murais e painéis desenhados por jovens artistas franceses, como Albert Gleizes e Léopold Survage.

Sonia Delaunay composition 24, 1930 @ reprodução

Robert morreu de câncer em outubro de 1941. No final da Segunda Guerra Mundial, Sonia se tornou membro do Salão de Novos Criadores. Em 1964, ela e o filho doaram 114 trabalhos assinados por ela e por Robert ao Museu Nacional de Arte Moderna. Ela ainda desenvolveu tecidos, porcelanas e joias, inspirados na sua obra dos anos 20. Em 1978, ela lança uma autobiografia. Ela faleceu no ano seguinte, aos 94 anos.

Sonia Delaunay – Matra M530A @ reprodução

(Artigo assinado por Jorge Marcelo Oliveira)