Ícone de estilo, modelo de Azzedine Alaia, Yves Saint Laurent, Claude Montana, Kenzo, Issey Miyake e Thierry Mugler e capa da ELLE Vogue, Grace Jones rompeu com conceitos de gênero entre 1970 e 1980.
Seu tom de pele, corpo esguio e corte de cabelo Flat Top eternizaram uma imagem moderna, contemporânea e minimalista numa época de excessos. Grace foi a precursora da androginia quando poucos sabiam o que era isso.

Modelo de sucesso

Grace Jones Essence Magazine @ Anthony Barboza

 

Nascida em Spanish Town, na Jamaica , em 19 de maio de 1948, Grace Beverly Jones se mudou com a família para Syracuse, Nova York (EUA), quando era adolescente. Estudou teatro na Universidade da cidade enquanto dava os primeiros passos como modelo.

Grace Jones usa modelo Azzedine Alaia @ divulgação

Aos 18 anos, se mudou para Nova York para assinar contrato com a badalada agência de modelos de Wilhermina Cooper. Logo foi enviada para Paris, que se apaixonou por sua personalidade única, androginia e tom de pele.

Grace Jones @ Helmut Newton

Desfilou nas passarelas de Yves Saint Laurent, Claude Montana, Kenzo, Issey Miyake e Thierry Mugler. Foi capa da Vogue, ELLE e Stern. Trabalhou com os fotógrafos Jean-Paul Goude (que a elegeu sua musa), Helmut Newton, Guy Bourdin e Hans Feurer. Tornou-se o rosto das campanhas de Azzedine Alaia. Foi musa de Andy Warhol, Keith Haring e Robert Mapplethorpe.

Grace Jones @ Guy Bourdan

Dividiu apartamento com Jessica Lange e Jerry Hall. Com a última, frequentava as pistas da Le Sept, o clube LGBTQIAP+ mais famoso de 1970 e 1980, onde conheceu Giorgio Armani e Karl Lagerfeld. Grace estrelou o álbum “Eboby Woman” do cantor Billy Paul em 1973.

Grace Jones @ Robert Mapplethorpe

Disco Queen

Em 1975 lançou o single “I Need a Man”. Não chamou atenção. Gravou “That’s The Trouble” e “Sorry”. Fizeram sucesso nas pistas Disco. No embalo, a gravadora Beam Junction contratou o produtor Tom Moulton e remixou “I Need a Man”, que se tornou um hit e entrou na Parada da Billboard. Esta versão entrou na trilha sonora da novela global “Sem Lenço Sem Documento”, em 1977.
No mesmo ano, Grace assinou um contrato com a Island Records e lançou “Portfolio”. O lado A do disco de vinil original apresentava canções de musicais da Broadway: “Send in the Clowns” de Stephen Sondheim de A Little Night Music, “What I Did for Love” de A Chorus Line e “Tomorrow” de Annie.

O lado B começava com uma reinterpretação muito pessoal de Jones da música “La Vie en Rose” – canção assinatura de Édith Piaf (letra da própria com melodia de Louis Guglielmi em 1945). Tornou-se o primeiro singles de sucesso internacional e fundamental em seu repertório.
“La Vie en Rose” de Jones foi relançada várias vezes no início dos anos 1980 e finalmente atingiu a 12ª posição nas paradas do Reino Unido quando relançada como um lado A duplo com “Pull Up to the Bumper” em 1985. O single foi certificado como disco de ouro na França e na Itália. No Canadá mais de 75 mil cópias foram vendidas

Grace Jones @ Jean-Paul Goude

Sobre a canção, Grace contou: “Essa é uma música muito especial para mim. Ai de Deus, eu choro toda vez que a canto. Eu tive alguns amantes franceses, então toda vez que a canto, penso neles”.
A arte do álbum – em formato duplo – foi projetada por Richard Bernstein, um artista que trabalhava para a revista Interview.
Os três singles “I Need a Man”, “Sorry” e “That’s the Trouble” completavam o álbum.

Grace Jones – Portfolio (1977) @ Richard Bernstein

O crítico Robert Christgau afirmou que Jones cantava de forma tão desafinada que a faz parecer inferior a artistas como Andrea True e Linda Ronstadt, populares na época. Apesar disso, ele via essa falta de técnica vocal como algo positivo, pois a associava a uma atitude libertária e punk. Apontava a ironia da demanda de Jones por liberdade sexual, em contraste com sua posição de poder como modelo de moda, que é uma indústria muitas vezes associada à exploração e objetificação das mulheres. Por fim, Christgau expressava seu desejo que Jones gravasse músicas mais desafiadoras em oposição às escolhas mais convencionais do disco. Foi o que ela fez.

Fim da Era Disco

Seu trabalho seguinte foi “Fame”, de 1978. O single “Do or Die” atingiu a posição #3 no chart da Billboard Dance Club Play. Outros sucessos foram “Pride” e “Fame”.

O álbum seguinte “Muse” chegou ao mesmo momento da “Disco Demolition Night” em 12 de julho de 1979. Steve Dahl, um DJ de 24 anos foi demitido de uma rádio de Chicago. A emissora estava mudando o estilo – de rock para Disco. Como vingança, ele liderou o movimento chamado Disco Suck e convocou fãs de rock para queimar álbuns de Disco Music no intervalo de uma partida entre os times de basebol Chicago White Sox e Detroit Tigers, no Comiskey Park.
Foi uma confusão sem fim. A polícia fez diversas prisões e contabilizou a quase destruição do campo. O evento ficou conhecido como o ‘dia que a disco morreu’.

Grace Jones – Warm Leatherette (1980) @ divulgação

Graças a isso, o álbum “Muse” sumiu. Ele reapareceu quando a Gold Legion, gravadora especializada em resgatar clássicos da Era Disco, remasterizou e o relançou em novembro de 2011.
Os shows ao vivo de Grace eram um acontecimento ao mostrar uma forte sexualidade que misturava gêneros. Tornou-se a “Rainha Disco Music” da população LGBTQIA+ da época.
Em 1980, ela lança seu quarto álbum, “Warm Leatherette” com covers das bandas The Pretenders, Roxy Music e Tom Petty and the Heartbreakers. O que chamou a atenção foi a capa assinada pelo artista Jean-Paul Goude com Grace com o corte de cabelo Flattop e de braços cruzados.

Nightclubbing

No ano seguinte, misturando new wave, funk, dub, reggae e R&B, Grace lançou “Nightclubbing”, com versões de canções de Bill Withers, Iggy Pop e Astor Piazzolla. Foi eleito o melhor do ano pelos críticos da revista britânica NME, além de receber excelentes resenhas pelos leitores, que ficaram surpresos pela ótima fusão de gêneros. Ficou no Top 1 em cinco países e atingiu a melhor posição da artista na Billboard Top 200, além das paradas R&B.

Grace Jones na capa de Nightclubbing assinada por Jean Paul Goude (1981)

Seis singles, incluindo “Pull Up to the Bumper” e “I’ve Seen That Face Before (Libertango)” se tornaram sucesso.
“Nightclubbing” se tornou um hino ao hedonismo de uma geração em busca de prazeres rápidos e fugazes. Críticos e especialistas o consideram uma das grandes influências para o Pop Music das próximas décadas ao misturar com maestria estilos musicais variados que combinavam com o estilo pessoal da artista. Foi o trabalho que sedimentou Grace como Ícone Pop.

A arte da capa foi criada a partir de uma técnica chamada Blue-Black in Black on Brown, criada por Jean Paul Goude no qual a fotografia é pintada ganhando um tom violeta. Usando o icônico corte de cabelo Flattop, Grace apareceu usando um terno masculino Giorgio Armani com ombreiras portando um cigarro nos lábios. Sua imagem era andrógena, fluída e disruptiva de todos os conceitos de gênero até então conhecidos.
O artista gráfico Storm Thongerson incluiu a imagem da capa em seu livro de 1999 “100 Melhores Capas de Discos”. A revista American Photo a colocou na lista das 30 Melhores Capas da história. Também esteve na retrospectiva da carreira Jean-Paul Goude chamada “So Far So Goude” na Galeria de Arte Contemporânea Padiglione em Milão, que aconteceu em 2016.

Pós arte conceitual

Depois do sucesso de “Nightclubbing”, Grace Jones lançou “Living My Life”, em 1982 com o hit “My Jamaican Guy”. Nos próximos anos, ela faria sua estreia como atriz. Estrelou “Conan, o Bárbaro”, ao lado de Arnold Schwarzenegger, em 1984 e foi a vilã May Day no filme de James Bond “007 – Na Mira dos Assassinos”.

Três anos depois, ela lançou o álbum conceitual “Slave To The Rhythm”, no qual a canção título ganhou várias interpretações com acréscimos de conversas de Grace com os jornalistas Paul Morley e Paul Cooke, além do ator Ian McShane que leu trechos da biografia de Jean-Paul Goude.
Assim como o anterior, o álbum conseguiu as melhores posições de Grace na Parada Billboard 200 e no Canadá. Vendeu um milhão de cópias no mercado internacional.

Últimos hits

O oitavo álbum em estúdio de Grace foi “Inside Story”, de 1986. Duas canções se tornaram sucesso: a dançante “I’m Not Perfect (But I’m Perfect for You)” e jazzística “Victor Should Have Been a Jazz Musician”.
A primeira atingiu a posição #04 na Parada Dance Music/Club Play, a #09 na Hot Black Singles, a #12 na Hot Dance Music/Maxi Singles Sales e na #69 da Hot 100 da Billboard. Foi sua última canção a entrar nas paradas.

Com um custo de U$ 250 mil, o videoclipe de “I’m Not Perfect” foi dirigido por Grace (sua única direção). Ela usou um look criado pelo artista plástico de Pop Art e Street Art, Keith Haring. Andy Warhol (meses antes de morrer), o produtor musical Nile Rodgers e a designer Tina Chow surgem ao seu lado.
Seu último álbum em estúdio foi “Hurricane”, em 2008. Apesar da ótima primeira faixa “This Is”, o álbum foi um fracasso.
Em Abril de 2012, ela, Debby Harry, Bebel Gilberto e Sharon Stone participaram no Baile de Gala Inspiration em São Paulo, que arrecadou U$ 1,3 milhão para a amfAR (Fundação de Pesquisa para a cura da AIDS). Grace fechou a noite interpretando “La Vie en Rose” e “Pull Up to the Bumper”

Legado

Grace Jones entrou na 82ª posição entre as 100 Maiores Mulheres do Rock and Roll do canal VH1 em 1999. Em 2007 foi homenageada no prêmio Q Idol. Em 2016 a Billboard a colocou no 40º lugar entre as Maiores Artistas de Dance Club de Todos os Tempos.
Sua imagem influenciou diversas gerações e artistas, como Annie Lennox, Lady Gaga, Rihanna, Solange Knowles, Lorde, Róisin Murply e Basement Jaxx, entre outros.


Sua opinião

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.