O gato é colocado às pressas na caixa de transporte sem saber o destino. Logo depois, quando descobre o seu paradeiro, percebe o tamanho do problema que terá pela frente: seu novo endereço é um pequeno apartamento, espécie de solitária onde vive um homem aos farrapos. Sujo. Pálido. Triste.
Intrigado com o que vê, o animal começa a refletir sobre a vida errática do seu novo “inquilino”, ao mesmo tempo em que busca alguma forma de se aproximar daquele estranho.
Este é o ponto de partida de Meu (Sub)Estimado Humano – Notas de um Gato em Desespero Diante de um Homem Quase Morto, romance de estreia do jornalista Henrique Nunes, recém-lançado pela editora Patuá.
A convivência involuntária entre os dois personagens é descrita “ao vivo” pelo gato, por meio de fluxo de consciência, numa conversa impiedosa com o leitor.
A obra conta com ilustrações de Letícia Pegorer, convidada pelo autor para organizar com imagens a narrativa propositadamente caótica. Seus desenhos, feitos com total liberdade, demarcam cada capítulo com sutileza e melancolia. Um deles, aliás, é inteiramente ilustrado, sem texto, numa sequência que entrega dose extra de originalidade ao livro.

A inspiração para a história veio de uma relação semelhante entre o autor e uma gata siamesa que atende pelo nome de Vênus.
“Escrevi a história depois que adotei uma gata no auge da pandemia. Isolado e bastante deprimido, notei que ela tentava “falar” comigo, me reanimar, me levar para o quintal, me impedir de fumar e beber. Passei a anotar as reações dela para tentar decifrar o que pensava. Quando vi, tinha anotações suficientes para transformar tudo numa história. Ela no fim das contas me salvou”, define Henrique Nunes.

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