As Três Graças são deusas da mitologia grega que simbolizam a beleza, o charme e a alegria. Filha de Zeus, Eufrosina (alegria), Aglaia (elegância) e Tália (juventude/beleza) representam virtudes essenciais à convivência social e à inspiração artística.
As Graças eram dançarinas das festas no monte Olimpo. Embora pouco relevantes na mitologia greco-romana, a partir do Renascimento, elas se tornaram símbolo da idílica harmonia do mundo clássico. Nas primeiras representações plásticas, elas apareciam vestidas. Mais tarde, contudo, foram representadas como jovens desnudas, de mãos dadas.

Da imagem inicial, o modelo helenístico ganhou interpretações no Renascimento, originando quadros célebres como A Primavera (1482), de Sandro Botticelli, As Três Graças (1639), de Peter Paul Rubens (1577–1640) e As Três Graças de Bertel Thorvaldsen, criada em 1842.



Antonio Canova – a encomenda da imperatriz
A mais famosa, porém, é a versão “As Três Graças”, de Antonio Canova, encomendada pela ex-imperatriz da França, Joséphine de Beauharnais. Produzida entre 1814 e 1816, ela é feita em mármore branco com 182 cm de altura e está exposta no Museu Hermitage, São Petersburgo, Rússia.

A segunda versão é de 1817, também em mármore branco, porém, com pequenas variações na postura e acabamento. Ela é um patrimônio compartilhado entre o Museu Victoria & Albert (Londres) e a Galeria Nacional da Escócia (Edimburgo), que atualmente hospeda a escultura após 11 anos na Inglaterra. Suas medidas são 173.00 x 97.20 x 75.00 cm; 585 kg.

A produção
A peça foi esculpida a partir de um único bloco de mármore branco. Os assistentes de Canova fizeram o desbaste inicial do mármore, deixando para o mestre a tarefa de realizar o entalhe final e dar forma à pedra de modo a destacar a suavidade da textura da pele das Graças. Essa técnica era uma marca registrada do artista, e a escultura demonstra uma forte ligação ao movimento neoclássico na escultura, do qual Canova é o principal expoente.

As três deusas são retratadas nuas, unidas num abraço, com as cabeças quase se tocando — o que muitos críticos descrevem como uma peça de “carga erótica”. Elas permanecem de pé, inclinadas levemente umas em direção às outras — talvez discutindo algo em comum ou simplesmente apreciando a proximidade. Seus penteados são semelhantes: os cabelos trançados e presos no alto da cabeça em um nó.
O estilo é elegante e transmite refinamento e classe — há nelas uma delicadeza característica das esculturas de Canova. Historiadores da arte frequentemente comentam sobre o equilíbrio sereno que parece existir entre as três cabeças. Diferente das composições das Graças inspiradas na Antiguidade, em que as figuras externas se voltavam para o observador e a figura central abraçava as outras de costas, as figuras de Canova estão lado a lado, voltadas umas para as outras.
As três figuras femininas magras tornam-se uma só em seu abraço, unidas pelas mãos entrelaçadas e por um véu que as conecta. A unidade das Graças é um dos temas principais da obra. Elas estão sobre um altar sacrificial adornado com três grinaldas de flores e uma guirlanda, simbolizando seus laços frágeis e íntimos.

A obra de Canova desafiou a concepção barroca de beleza opulenta: ele representa as Graças como jovens mulheres esguias e delicadas. Essa não é a única ruptura que o trabalho de Canova estabelece em relação ao Barroco.
Por exemplo, as obras barrocas do escultor italiano Bernini apresentam um momento congelado no tempo — uma espécie de “instantâneo”. A escultura O Êxtase de Santa Teresa (1644), de Bernini, mostra o instante em que o Espírito Santo perfura o coração de Teresa, deixando-a em um estado que só pode ser descrito como êxtase diante da presença divina. É uma cena dramática e comovente, capturada por Bernini no auge da emoção.
A obra de Canova, no entanto, é diferente. Suas esculturas não parecem conter um verdadeiro senso de tempo — elas simplesmente existem num ponto do passado, como lembranças etéreas de acontecimentos ou personagens mitológicos há muito desaparecidos. No caso de As Três Graças, ele dispensa qualquer teatralidade e convida o observador a interpretar a cena livremente.
Essa abordagem é típica do movimento Neoclássico. Em muitos aspectos, essa obra representou uma mudança de paradigma e passou a ser considerada, por muitos, um referencial de beleza ideal.
37 obras com o nome “As Três Graças”

As Graças são retratadas junto com várias outras figuras mitológicas na pintura Primavera de Sandro Botticelli. Rafael também as representou em uma pequena pintura que hoje está no Musée Condé (Chantilly, França).

Até o momento, existem 37 obras com o nome As Três Graças, das mais variadas autorias (além dos citados), entre eles, Jean Arp, Paul Cézanne, Antonio da Corregio, Francesco del Cossa, Pablo Picasso e Anna Soghomonyan.







Um grupo de três árvores no Parque Estadual Calaveras Big Trees recebeu o nome de “As Três Graças”, em homenagem às Graças. Tipo assim…
