A ostentação e a fragilidade emocional

A ostentação é uma linguagem social de pertencimento, validação e poder simbólico. Quando ela se torna eixo da identidade, revela e amplifica a necessidade de reconhecimento externo, a ansiedade de status e o medo de invisibilidade.
A exibição de bens, experiências e marcas comunica hierarquia e distinção. Em contextos de competição simbólica, a ostentação funciona como “prova” pública de valor. Quando o “eu” se apoia na aprovação externa, objetos e rituais de luxo ocupam o lugar de autoestima sólida. Consumir para “entrar” num grupo é investir em códigos compartilhados (logos, lugares, estéticas). Sem integração relacional autêntica, cria-se pertencimento frágil.
Em sociedades com grande desiguais sociais, como a brasileira, a visibilidade pública de consumo vira linguagem de vitória; sua ausência, de fracasso.

Eu sou rykah @ reprodução

Narrativas midiáticas e digitais transformam o luxo em horizonte desejável e cotidiano. O extraordinário passa a parecer acessível e obrigatório. Metros invisíveis, periferias deslegitimadas e centros hipervisíveis estimulam estratégias de “ser visto”, nas quais o consumo vira passaporte de reconhecimento.
A ostentação é um idioma de poder e pertencimento num mundo que mede valor por visibilidade. Ela atende carências reais de reconhecimento, mas, quando ocupa o centro da identidade, fragiliza. O cuidado passa por reescrever métricas de valor, fortalecer lastros internos e construir comunidades que reconheçam pessoas pelo que sustentam e não pelo que exibem. A cultura não muda só com vontade individual; ela muda quando novos critérios de prestígio se tornam coletivamente desejáveis.

A Ostentação no Brasil

O ostentação no Brasil se manifesta principalmente em carros de luxo, casas e apartamentos em condomínios de alto padrão, roupas e acessório de grife, aparelhos celulares de última geração, viagens internacionais e exibição em redes sociais. Esses exemplos concretos revelam como o consumo conspícuo se tornou parte da cultura urbana e digital brasileira.

Porsche 011 Carrera @ divulgação

SUVs importados e esportivos são símbolos recorrentes de status. Em cidades como São Paulo e Brasília, a presença de Ferraris, Porsches e Lamborghinis em bairros nobres é uma forma explícita de ostentação. O carro continua sendo um dos principais objetos de desejo e distinção social.

Bolsas da Louis Vuitton, sapatos da Christian Louboutin e roupas da Gucci são exibidos como símbolos de poder aquisitivo. O consumo destes itens é impulsionado por influenciadores digitais e celebridades, que reforçam a ideia de que o luxo é sinônimo de sucesso.

Harry Winston – Colar de Diamantes e Esmeralda @ Divulgação

Publicar fotos em destinos como Maldivas, Dubai ou Paris tornou-se prática comum para sinalizar status. A viagem não é apenas lazer, mas também uma forma de mostrar acesso a experiências exclusivas.

Plataformas como Instagram e TikTok são vitrines da ostentação: carros, roupas, festas e restaurantes de luxo são exibidos para gerar admiração e inveja. O fenômeno da “ostentação digital” é alimentado por algoritmos que privilegiam conteúdos chamativos e aspiracionais.

Arquitetura e Decoração

Lobby Burj Al Arab – Dubai @ divulgação

O mercado de arquitetura e decoração no Brasil vê a ostentação como um reflexo cultural e social, mas hoje ela está sendo reinterpretada: em vez de apenas luxo ostensivo, há uma valorização crescente da personalização, do conforto e da identidade, embora o consumo do desejo ainda seja forte.
Historicamente, ostentar na decoração significava mostrar poder aquisitivo através de móveis importados, materiais nobres (mármore, madeiras raras), grandes espaços. Esse padrão ainda existe, especialmente em nichos de alto padrão, mas hoje é mais segmentado: condomínios de luxo, apartamentos premium e casas de campo. A ostentação é vista como uma forma de afirmação social e muitas vezes como investimento: ambientes luxuosos valorizam o imóvel.
Após a pandemia, houve uma virada cultural: o lar passou a ser visto como espaço de bem-estar, não apenas de exibição. A ostentação agora se mistura com funcionalidade e sustentabilidade. Projetos de luxo incluem automação, eficiência energética e design biofílico.

Fragilidade emocional @ reprodução

Consumidores de classe média aspiram ao luxo, mas buscam versões mais acessíveis — o chamado “luxo democrático”, com peças de design assinadas, mas em escala industrial.

Fragilidade emocional @ reprodução

Esses exemplos mostram que a ostentação no Brasil atual não é apenas consumo, mas um código social de reconhecimento e pertencimento. Ela reflete desigualdades estruturais: enquanto alguns exibem luxo, muitos enfrentam dificuldades básicas. Ao mesmo tempo, a ostentação alimenta uma economia criativa (decoração, moda, música, turismo), mas também reforça padrões insustentáveis de consumo.

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