Não existe uma certeza quem criou a expressão ‘Plus-Size’. Algumas pistas, porém, levam a Lena Himmelstein Bryant Malsin, costureira americana nascida na Lituânia, que recém-viúva e com filho pequeno, alugou uma loja na Quinta Avenida, em Nova York, em 1904, voltada a gestantes. Graças a um erro de grafia feito por um bancário, sua loja ganhou o nome de Lane Bryant.
Suas clientes pediam peças que fossem mais confortáveis para usar em público. Lane criou um modelo de vestido com elástico na cintura e saia plissada, que se tornou um sucesso. Na sequência, começou a produzir espartilhos e lingeries. Suas criações despertaram atenção das mulheres que vestiam acima do manequim 46.
Com o tempo, Lane abriu lojas em Detroit e Chicago. Seus catálogos apresentavam as ‘Misses Plus Sizes’, oferecendo peças para mulheres ‘grandes’. Copiando a ideia, outras lojas de departamento americanas lançaram casacos e vestidos ‘plus size’.

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Até então, a expressão Plus Size era utilizada para descrever as roupas – e não mulheres. Para as mesmas, a publicidade usava ‘stout’ (robusta) ou ‘chubby’ (gordinha). ‘Mulher Plus Size’ foi utilizada em 1953 numa campanha da marca Korell, veiculada num jornal local da Carolina do Norte: ‘Wonderful Action-Plus Dress for the Plus-Sized Woman’.

Na época, as campanhas ofereciam ‘dicas’ para as gordas, como ‘chapéus não deveriam ser grandes’, ‘decote V ou coração’, ‘mangas longas’, ‘saias abaixo do joelho’, ‘estampas discretas’ – pois, segundo a ‘consultora’, elas alongavam a silhueta. Brilhos e ombreiras deveriam ser evitados. Assim, as roupas eram robotizadas, monótonas e limitadas.

Para fugir desse controle, clientes ricas procuravam ateliês particulares. No Brasil, a cantora Maysa Matarazzo recorria ao costureiro Dener e as internacionais Dior e Chanel.

NOVOS OLHARES
Entre 1959 a 1974, uma das vocalistas do grupo ‘The Mamas And The Papas’, a excelente Cass Elliot subverteu os códigos vigentes, se apresentando com roupas maxi coloridas, estampadas e brilhantes. Foi um momento de ‘libertação’ aos conceitos pré-estabelecidos pelo universo de ‘regras’ dos consultores de estilo das marcas dominantes ao mercado Plus Size.

Nos anos 80, surgiram marcas propondo novos olhares para as mulheres gordas, como ‘Marina Rinaldi’, que conta com 300 lojas atuais. ‘Forgotten Woman’ chegou a ter 30 lojas, mas abriu falência em 1999. Num artigo para o Sun Sentinel, de 1991, o autor explicava que, apesar do mercado Plus Size ganhar muito espaço na indústria da moda, as mulheres continuavam a ter dificuldade para encontrar roupas de qualidade. Que boa parte do que era oferecido pelas fast-fashion era coisas sem graça.
Talvez essas lojas não estejam realmente preocupadas em oferecer peças mais modernas ou seguir as tendências do mercado. Acham que a mulher gorda só quer se ‘esconder’ o corpo. Uma exceção foi a loja de departamentos JCPenney, que contratou a estilista gorda Ashley Nell Tipton para assinar uma coleção própria.

Sobre a precursora… Lane Bryant morreu em 1951, aos 74 anos. Deixou seus negócios aos filhos. Hoje, existem 812 lojas da marca em 46 estados americanos. Em 2013, Lane Bryant convidou a designer Isabel Toledo e o artista plástico Ruben Toledo para assinar uma coleção cápsula para o final do ano. No ano seguinte, eles assinaram uma coleção completa para a Primavera 2014. Em seguida, a empresa assinou com a estilista Sophie Theallet para produzir uma linha de lingeries e roupas para dormir.
GORDA OU PLUS SIZE
Apesar desse histórico, a questão é ainda muito complexa. Mulheres não se assumem como ‘gordas’. Elas se auto descrevem como ‘gordinha’, ‘fofinha’, ‘cheinha’, ‘robusta’, ‘gostosa’ e outros subterfúgios. Assumir-se como ‘gorda’ é uma atitude politica. Poucas têm coragem! No fundo, ainda elas carregam anos de preconceito e baixa autoestima – alimentados por conceitos que misturam obesidade com doença. Sim, existem problemas de saúde no sobrepeso, mas acreditar que todos os gordos são doentes é um erro.

Há alguns anos, quando pesquisava para escrever meu primeiro artigo sobre esse assunto, me surpreendi o quanto mulheres tem problemas com a palavra ‘gorda’. Piora quando se colocam como figuras cruéis e implacáveis em relação às colegas do mesmo tipo físico. Sem medo de julgamento, são as primeiras a apontar ‘olha que gorda!’. ‘Que sem noção!’, ‘Não deve ter espelho em casa de tão gorda que é!’.

As mesmas também não querem se ver representadas em publicações de moda e beleza, como Vogue ou Harper’s Bazaar. Elas gostam de ver as mulheres magras, com pele e cabelo impecáveis.

Essas publicações, segundo alguns relatos, funcionam para alimentar um ‘ideal’ de beleza, do sonho e do desejo daquilo que, na vida real, poucas têm acesso.
Por outro lado, quantas publicações escritas por pessoas magras festejam quando uma atriz/cantora/modelo emagrece?
É um tipo de pauta que, visivelmente, agrada a quem escreve. Talvez acreditem que as leitores queiram ler isso – mesmo sem qualquer certeza desse pensamento.
Leia o trecho final de um artigo que celebra a perda de peso da atriz Melissa McCarthy: “Melissa não revelou qual foi a sua perda de peso, mas, com certeza, está ótima, não é mesmo? Veja outros famosos que passaram por transformações impressionantes”.

Pois é…
(Fonte: MIC)

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