Por @kellykggonzaga
Falar de mim e da minha carreira envolve muito mais que grandes grifes ou clientes: é uma história de superação sonhos fé e determinação.
Meu sonho de criança era viajar o mundo. Não só passear, mas morar um pouquinho em cada país. Diziam que eu era como a Alice no País das Maravilhas. No meu caso “Kellynha no País das Maravilhas”.
Minha carreira profissional começou aos 15 anos por um concurso chamado Dakota Elite. Naquela época trabalhava há um ano como office boy em Campinas na CPFL num departamento com uns 90 engenheiros. Todos sabiam do meu sonho.
Um dia um engenheiro contou num evento de final de ano disse ao Presidente que era convidado no dia, que tinha uma patrulheira que sonhava em ser modelo. Eu fiquei morrendo de vergonha. Um book custava R$ 800 e meu salário era R$ 156. Simplesmente o presidente perguntou quanto custa isso? E quando o engenheiro respondeu, ele falou “Está aprovado! Vamos ajuda-la!”
Minha chefe intermediou tudo e eles me ajudaram a pagar o book. Através do departamento de marketing, fiz meu primeiro book num estúdio em São Paulo.
Aos 17 anos sai da empresa para tentar a carreira em SP. Meu departamento fez uma festa. Ganhei uma mala de viagem e uma pessoa falou: “Um dia você vai viajar e vai usar essa mala!”.
Naquela época, a pressão para ter as medidas e um corpo perfeito (de acordo com os padrões do mercado de moda) era muito grande. Era muito difícil para um adolescente lidar com aquilo.
Por não conseguir seguir uma norma, desenvolvi bulimia – uma doença muito comum entre as modelos. Foi muito difícil, houve altos e baixos. Fiquei muito doente durante uma viagem à Turquia. Já tive muitas crises.
Um dia tive um sonho revelador: ficaria boa em 15 dias. Isso realmente aconteceu mesmo sem tomar medicação.
Aos 26 anos finalmente consegui me libertar dela e – depois de quase 11 anos com essa doença – me curar.
Depois disso, aos 28 anos, minha vida deu uma guinada.
Entrei na Ford Models Brasil. Eu queria muito isso. Já tinha representação na Alemanha, África do Sul Chile
Quando fechei uma representação em Paris. Com 37 ouvi o seguinte: “Você é a modelo mais velha que aprovamos. Não temos outra assim, mas queremos você!”.
Minha primeira campanha foi em Milão. Depois fiz várias, entre outras, para a L’Oreal com cabelo/maquiagem de Aldo Copolla. E também uma Campanha para Downtown Palestre – foi o maior cachê que já tinha recebido naquela época.
Estou com 39 anos no melhor momento profissional da minha carreira. Às vezes, porém, escuto que preciso aparentar minha idade. Muitas vezes estou num trabalho ao lado de meninas de 23 ou 24 anos e o cliente não percebe minha idade.
Outra questão é a cor da pele. Uma vez uma cliente estrangeira falou: “Eu te amei, mas você é muito escura (Your skin is little dark)”. Eu tenho orgulho da minha pele. Mamãe era filha de negros e brancos. Era tão linda e eu me amo como sou.
Há dois anos fui aprovada para trabalhar na Wilhelmina Models de Londres. Ela é uma referência no mercado internacional da moda há mais de 56 anos.
Depois na Grécia, um fato interessante foi que quando eles viram meu passaporte me cancelaram. A justificativa de uma delas foi que não trabalhava com modelos da minha idade. Dois anos depois, esta mesma agência voltou atrás. Em Londres também aconteceu o mesmo anos antes.
Aos 38 anos, fechei minha primeira representação em Nova York.
Costumo falar a idade porque esse é um dos maiores bloqueios das modelos. Outra dificuldade era não ter tantos editoriais no meu book. Normalmente uma modelo mais velha trabalha anos com alguns fotógrafos. Mesmo assim, comece a fazer editoriais e capas em publicações internacionais.
Faço muitos comerciais também – Peugeot, Mitsubishi, Nintendo, Cacau Show, Advil, entre outros.
Um dia um cliente me perguntou onde me formei como atriz. Infelizmente com o meu ritmo de vida não consegui estudar, porém, o dia a dia tem me ensinado muito sobre muita coisa. Falo inglês, espanhol e estou aprendendo italiano.
Eu me apaixonei por fotografia. Comprei uma câmera e meu marido faz os cliques. Há dez anos minha mãe ficou doente. Eu me casei no hospital com um esposo incrível que apoia totalmente minha carreira. Ele é o meu maior ajudado não só acredita, mas faz de tudo para dar certo.
Objetivo
Idade não é impedimento para nada. Quero ajudar meninas que deixaram a carreira por acharem que estão velhas. O mercado mudou e precisamos aproveitar esta mudança. Precisamos ter garra e muita perseverança.
Os clientes também estão mudando. Começaram a trabalhar com diversidade de perfis.
Quero contar para elas a minha história e bagagem profissional.
Além da moda, estou desenvolvendo outros projetos paralelamente. Até o momento, conheci 23 países. Amo viajar e vivenciar culturas diferentes.
Finalizo este relato contando que, quando estou fraca é quando me fortaleço. Diante das dificuldades, tento colocar alicerces para me ajudar a não desistir. Cada degrau que subimos iremos levar as experiências as dificuldades e crescimentos que passamos e iremos passar.
Se você não pode realizar seu sonho hoje, ajude alguém a realizar o dele. Isso te fará muito feliz e preencherá seu coração.
Se você se sentir velha, é aí que envelheceu. Todos envelhecem, mas nossos objetivos não podem morrer pelo tempo ou muito menos pelo que as pessoas pensam. Temos que escutar para crescer aquilo que nos fortalece. Filtrar pensamentos e opiniões que não nos servem e deixá-los de lado, para que não nos abalem.
Ter objetivo é focar, nunca perder a fé.
Também se você puder trabalhar naquilo que ama não será apenas um trabalho.
Eu sou privilegiada porque faço o que amo. Também estou amando fotografar.
Sou feliz e grata pela vida e pela oportunidade que tenho de acordar a cada amanhecer por realizar meus sonhos e também poder ajudar quem está a minha volta.
Deus está sempre comigo! É minha maior direção.
Créditos:
Modelo @kellykggonzaga
Beleza @elisarampi
Fotos @ivangenasiphotography
MONDO MODA 
Você precisa fazer login para comentar.