O amor é um pássaro rebelde
Que ninguém consegue domar
E é inútil chamá-lo
Se lhe convém se recusar
Nada, ameaças e orações
Um fala bem, o outro é silêncioso
E o outro é que eu prefiro
Ele não disse nada, mas eu gosto
O amor, o amor, o amor, o amor

Na voz de Maria Callas, a ária da ópera “Carmen”, escrita por Georges Bizet em 1875, “L’amour est un oiseau rebelle”, abre o documentário “Eu Sou: Céline Dion”, que acaba de chegar ao Prime Vídeo.
A produção aborda a luta de Céline Dion contra a Síndrome da Pessoa Rígida, diagnosticada em 2022 – doença neurológica que afeta o sistema nervoso central, principalmente o cérebro e a medula espinhal, causando espasmos musculares.
Porém, como ela revela, seus problemas começaram há 17 anos. Numa manhã, depois que tomou o café da manhã, sentiu que sua voz estava estranha. Não conseguia emitir notas mais altas. A voz de mezzo-soprano falhava. Lembrando que as cordas vocais são músculos que precisam ser exercitados para um bom funcionamento. Começou a tomar de 80mg a 90mg de Valium por dia. Era um dos remédios. Deu certo, apesar dos pesares.
Contudo, no início da década de 2020, as coisas pioram muito, obrigando-a a cancelar as apresentações da “Courage World Tour”.

Dirigido por Irene Taylor, o documentário começa no living da casa da cantora. Sem maquiagem e com os cabelos presos, ela está ao lado dos filhos gêmeos.
Brincando de diretor, um deles faz perguntas: “Se pudesse ir para um lugar, qual seria? Um país ou estado…”. Ela responde: “Já sabem que viajei o mundo todo… Várias vezes. Acreditem que, mesmo tendo viajado o mundo, eu não conheci os lugares? Estranho, né? Costumamos dizer que é o preço que se paga”. Esta resposta dará o tom de sinceridade que o documentário irá transitar.

Documentário Céline Dion @ Reprodução

Corta. Entra uma apresentação ao vivo de “River Deep, Mountain High”, um de seus primeiros sucessos.
Corta. Vemos a cantora sendo socorrida por enfermeiros e médicos do serviço de emergência.
Voltando um ano antes, encontramos Céline em Nevada. Ela explica quais foram os primeiros sintomas da doença e como afetou sua voz.

Em seguida, dolorosas cenas ao lado de médicos, fisioterapeutas, rotinas do cotidiano ao lado dos filhos e do cachorro, uma visita ao enorme armazém que guarda os figurinos dos shows, itens pessoais (como desenhos dos filhos), entre outros. Ela relata curiosos detalhes do uso de vestidos e sapatos que usou em tapetes vermelhos e nos shows.

Céline Dion @ David Fisher/REX/Shutterstock

Ao mesmo tempo, imagens de sua infância, começo da carreira, de seu casamento com marido René Angélil (que faleceu em 2016), o nascimento dos gêmeos e variadas apresentações em shows e programas da TV.
Dona de uma sinceridade raríssima e incomum a artistas de sua escala, Céline não faz pose ou tipo ao mostrar sua fragilidade física e emocional. Não esconde o medo de não conseguir voltar a cantar, mesmo se propondo a fazer todos os esforços possíveis para tanto.

Dificilmente você assistirá outro relato tão sincero, melancólico e dolorido como esse. Da memória recente, só me lembro do livro “Rita Lee – Uma biografia”, escrito de forma tão realístico como este documentário.
Entenda: cercados por um exército de empresários, agentes, publicitários, etc, artistas se protegem da realidade com fartas camadas de mentira, manipulação e ilusão. Quanto mais poderoso, mais distante de qualquer coisa que podemos pensar como reais. Sendo assim, ver uma cantora se desnudar desta forma, é muito, mas muito raro.

Mega estrela

Documentário I Am Céline Dion @ Reprodução

Céline Dion, Whitney Houston e Mariah Carey são consideradas “as vozes da década” da música pop de 1990. Nos EUA, Céline ganhou o título de “Rainha das Power Ballads”.  Entre suas conquistas, vendeu mais de 250 milhões em todo o mundo, inúmeros prêmios – incluindo cinco Grammys e a voz da canção tema da 9ª maior bilheteria de Hollywood de todos os tempos (“My Heart Will Go On” de “Titanic”).
No final de 2009, foi reconhecida pelo Los Angeles Times como a artista mais bem paga, com vendas combinadas de álbuns e receita de shows da última década superando US$ 748 milhões.

Na première do documentário, em Nova York, na semana passada, Céline fez uma analogia e se comparou a “uma maçã de uma árvore”.

“Uma das histórias que vocês ouvirão de mim neste filme, enquanto eu lia e aprendia sobre minha condição foi uma comparação… E não estou dizendo isso porque estamos em Nova York – mas me comparei a uma maçã’’, relatou. “Quando eu disse a mim mesma que me comparei a uma maçã de uma árvore, [eu disse:] ‘eu não quero que vocês [fãs] fiquem mais na fila se eu não tiver mais maçãs brilhantes para vocês.’ Então, há alguns dias, vi uma mensagem de um fã que dizia: ‘não estamos aqui pela maçã. Estamos aqui pela verdade’”, acrescentou.


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