Caros formandos da graduação de 1989,
Recentemente recebi um convite para participar de um grupo criado para o WhatsApp. Aceitei, comecei a ler as mensagens, me lembrei de algumas pessoas… Daquelas que foram queridas comigo… E das outras “nem tanto”… Digamos assim!
Leio comentários nostálgicos… Simpáticos… Saudosos… E me ocorreu uma pergunta: “Por que não tenho lembranças positivas?”

Tirando um ou outro, os colegas de classe – homens, cis e héteros – foram horríveis comigo.
Ou faziam bullying ou me ignoravam.
Eu me lembro de várias situações durante as aulas, no qual eu fazia perguntas, lia algum texto ou relatava algo, eu ouvia os risos, as piadas, as caretas, etc.
Foram várias vezes.
Na época, eu era muito ansioso, falava muito rápido e atropelava as palavras quando ficava nervoso. Nesses momentos de bullying, tudo piora.
Rapidamente fui buscar apoio nas mulheres. Talvez por séculos sofrendo a opressão machista e patriarcal, algumas desenvolveram maior empatia pelas minorias. Não todas, lógico, mas uma boa parte.


Na minha história, mulheres sempre me acolheram. Dos amigos que ainda estão comigo, 90% são mulheres.

Naquela época conheci a Carmen e a Elaine, que, quase 40 anos depois, continuamos amigos. A vida nos levou caminhos diferentes, mas a força de nossa amizade voltou a nos unir. Mesmo quando estávamos distantes, meu carinho por ambas continuava o mesmo.
Também fui acolhido por algumas outras colegas… me lembro de cada uma.
Mas dos rapazes, tirando o Sergio, que se tornou um amigo querido até a véspera de sua morte, não tenho nenhuma lembrança boa de nenhum.

Nós, LGBTQIAP+, somos pessoas muito carentes. Sofremos muita opressão. Primeiro do nosso mundo interior até nos reconhecermos e aceitarmos como somos.
Em seguida, família, colegas, etc. É um processo longo e, por vezes dolorido.
Minha geração sofreu muito com todas as questões que enfrentamos naquela época.
Muitos viviam (e ainda vivem) em segredo… Muitos vivem na mentira…
E está tudo bem. Cada um tem seu tempo e usa o recurso que precisa para sobreviver. No meu caso… eu sempre fui um homem gay cis e assumido. Nunca estive em qualquer tipo de armário.
Hoje, aos 58 anos, tenho relacionamento afetivo há quase 21 anos com outro homem gay e cis. Nosso relacionamento é conhecido por todos que me cercam, nos mercados de trabalho que atuei (e atuo), nas redes sociais (@jorge.marcelo.oliveira), etc.
Não escondo absolutamente nada porque acredito que a verdade é libertadora. E, valorizo demais a liberdade.

Pena que, aos 20 anos, eu não tinha essa maturidade e muito menos preparo para me defender.
Demorei muito tempo para curar várias feridas que vocês ajudaram a criar.
Eu espero que vocês tenham melhorado como pessoas. Espero que tenham aprendido a serem mais empáticos com aqueles que são os diferentes de vocês.
Muita coisa aconteceu na minha vida – boas e ruins, na mesma intensidade.
Profissionalmente tive altos e baixos, mas no saldo final só guardo as boas. Prefiro assim.
Sou uma pessoa resistente. Apesar de várias quedas, sempre me levantei. E continuei a me levantar.
Ainda continuo movido pelo desejo do novo. Estou atento as mudanças, pois me recuso a permanecer no passado. Mantenho meu portal MONDO MODA há 18 anos.
Também completei 32 anos como Produtor de Áudio Visual, Editor de Estilo, Produtor de moda, Visual Merchandising, Docente e, há cinco anos me tornei Designer Autoral de biojoias e colares de decoração (@foiojorgequefez)
Arte e criatividade me estimulam e me nutrem. Alimentam minha alma.
E assim… Segue o baile.
Assinado, Jorge Marcelo Oliveira

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