Artigo: Uma Tarde Mergulhada em Livros

Passei a tarde de quarta-feira visitando memórias. Foi o seguinte: uma amiga me convidou para conferir as caixas de livros que pertenceram aos sogros que gostavam muito de literatura. Após a morte de ambos, provisoriamente, as caixas foram morar num boxe de uma empresa de guarda objetos. A ideia é encontrar outro destino para cada item.

Livros @ divulgação

Ao abrir as caixas, Camões, Oscar Wilde, William Shakespeare, Gustave Flaubert e Virginia Wolf dividiam espaço com Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, Monteiro Lobato e Machado de Assis. Em outras caixas, Agatha Christie, Morris West, Sidney Sheldon e Ira Levin, revistas de Museus de Arte, National Geographic e Bordados, além de uma vasta coleção de livros espíritas. Títulos em inglês e alemão, técnicos, dicionários e enciclopédias.
Mesmo não tendo conhecido pessoalmente, comecei a sentir uma profunda simpatia pelo antigo dono daquela coleção. Fiquei imaginando quantas emoções experimentou ao mergulhar em tantas estórias. E também o quanto que sua vida foi enriquecida com tudo o que aprendeu. Somente uma pessoa que gosta de literatura para entender a importância que livros fazem na história de cada um.

Livros (C) Steve Moull

Mais tarde, em casa, continuei a pensar nos livros. Eu me lembrei de um episódio da minha infância.
Nas férias, costumava visitar uma tia que morava em Piracicaba. Eu a acompanhava no seu trabalho como empregada de um casal de idosos. Ambos aposentados. Ele, jornalista. Ela, professora.
Eu era fascinado por dois espaços: o Living – recheado de objetos de decoração, como vasos, almofadas, telas e pequenas esculturas. Ao entrar na casa, as pessoas passavam pelo espaço, eram conduzidas para a sala de jantar e a porta era fechada. Era quase um santuário.
O outro espaço era um quarto que foi transformado em biblioteca com centenas de livros espalhados em estantes, escrivaninha com uma máquina de escrever preta (não me lembro do nome do fabricante) ao lado de vários jornais e revistas. Tudo regado com um cheiro de charuto.
Em algumas ocasiões, o dono da casa pegava um livro – normalmente de fotos de diversos países, me entregava com a recomendação de devolver depois que eu folheasse. Confesso que nem sempre gostava dos livros. Eu me interessava muito mais pelas revistas de fofoca ou moda, que ficavam na sala da TV… Mesmo assim, pegava os livros, folheava e depois devolvia. Este ritual durou alguns anos. Com o tempo, passei a ler os livros. Nasceu um interesse por literatura. E também o desejo em ter na minha casa uma estante forrada de livros em casa.

Jorge Marcelo Oliveira – Livros @ MONDO MODA

Muitos anos depois, quando comecei a trabalhar, comecei a adquirir livros: títulos de coleções lançadas em bancas de revista. Livrarias vieram em seguida.
Num certo momento, tive um acervo com uns 200 títulos, ao lado de coleções de revistas, disco de vinil, fitas VHS… Depois, CDs e DVDs…
Há uma década comecei um processo de desapego. Doei uma boa quantidade. Ainda tenho uma centena de livros, revistas e DVSs, que, em algum momento, planejo também me desapegar.

Livros @ MONDO MODA

Enquanto isso não acontece… Sai daquele boxe com 20 livros em mãos: Oscar Wilde (que volta ao meu acervo), Camões, Machado de Assis, Gustave Flaubert, Virginia Wolf, William Shakespeare… As biografias do cantor Frank Sinatra e do Boni (o antigo produtor executivo da TV Globo)… E três títulos de terror: “A Profecia”, “O Espírito do Mal” e “As Duas Vidas de Audrey Rose”… Além das revistas dos Museus de Arte!
Ou seja: um pouco de caviar… E um pouco de pipoca!