Piloto da série As Panteras completa 49 anos

 

“Era uma vez três garotas que ingressaram na academia de polícia. E cada uma deles recebeu missões muito perigosas para cumprir. Mas eu as livrei de tudo isso e agora trabalham para mim. O meu nome é Charlie.”

Estas palavras famosas eram ouvidas todas as semanas entre 1976 e 1981 durante a abertura da série “As Panteras (Charlie’s Angels, no original)”. À medida que cada uma das personagens icónicas aparecia com os cabelos perfeitamente penteados, o público se empolgava para ver as deslumbrantes detetives a dar conta do recado.

As Panteras (Charlie’s Angel)” estreou no canal americano ABC no dia 21 de março de 1976. Conquistou uma boa audiência. Da noite para o dia, as três detetives conquistaram a América, e na sequência, o resto do mundo.

Logo, a imagem das atrizes estava em figurinhas de chiclete, pôsteres, lancheiras, bonecas e nas revistas (incluindo a Time – a mais importante publicação estadunidense da época). O programa chegou a ocupar a quarta posição entre os mais vistos nos Estados Unidos.
“As Panteras” é uma ideia original da dupla Ivan Goff e Ben Roberts, mas foram os produtores executivos Aaron Speling e Leonard Goldberg que transformaram a série num sucesso. Eles mudaram o título original (‘Alley’s Cat) e o formato, dando mais humor, charme e agilidade.

O piloto da série foi apresentado em 21 de março de 1976 com duração de 90 minutos. Aprovado, a série estreou em 22 de setembro, rendendo cinco temporadas com 116 episódios de aproximadamente 50 minutos. Teve três trocas de atrizes e foi cancelado no dia 24 de junho de 1981.

Bastidores

Depois de vários testes com dezenas de atrizes, as escolhidas pelos executivos da ABC foram Kate Jackson (Sabrina Duncan) e Jaclyn Smith (Kelly Garrent). Para o papel de Jill Munroe, os produtores queriam uma loira com a sensualidade que misturasse o conceito de saudável “Garota de Malibu” com suaves doses de malícia e muito glamour.

Studio 54 Farrah Fawcett @ Reprodução

Mais conhecida como mulher do ator Lee Majors (que fazia sucesso com a série “O Homem de Seis Milhões de Dólares”, a atriz e modelo Farah Fawcett Majors foi a última a ser escalada. Ela estava indecisa, pois acreditava que, depois de uma bem sucedida participação no seriado do marido, ganharia um programa próprio. Contudo, aceitou o convite.
Inicialmente, Kate Jackson seria a protagonista. Com uma carreira mais conhecida na TV, ganhava um salário de US$ 10.000 por semana, enquanto as demais recebiam US$ 5.000. Porém, o furacão Farrah, com seu penteado em camadas (chamado de Pigmaleão que marcou a década de 70), roubou a cena e se tornou a primeira pantera a ganhar a mídia, capas de revistas e jornais, estrelando todas as ações de merchandising.

Farrah Fawcett Majors 1976 @ Divulgação
Farrah Fawcett Majors 1976 @ Divulgação

A carreira de Farrah Fawcett foi instantaneamente alavancada, graças também ao lançamento de seu famoso “pôster do maiô”, que vendeu milhões de cópias. A foto estava em todos os lugares, incluindo no filme “Os Embalos de Sábado À Noite” – o grande hit de 1977.
Insatisfeita com o rumo que a personagem estava tomando (cada mais destacando seus atributos físicos), com inúmeras novas propostas de trabalho e muito pressionada pelo marido, Farrah deixou a série no final da primeira temporada.

Studio 54 Farrah Fawcett e Steven Rubell @ Reprodução

Sua saída chocou o público e os produtores, Aaron Spelling e Leonard Goldberg a processaram por quebrar um contrato de cinco anos.

Fawcett foi substituída por Cheryl Ladd, que fez a irmã caçula de Jill, a personagem Kris Munroe. A pressão foi enorme em cima da jovem cantora e atriz, que, com medo de não repetir o sucesso da antecessora, optou por criar uma personagem divertida e bem humorada, que se metia nas maiores roubadas. Assim, apesar dos pesares, Cheryl conquistou seu espaço e ficou até o final do programa. Como resultado do processo, Farrah foi obrigada a voltar como convidada especial em seis episódios até 1980.

Para justificar sua volta, os roteiristas criaram a estória que Jill deixou a agência de Charlie para morar na Europa com a proposta de se tornar competidora em corridas de carros. Suas ‘voltas’ eram para visitar sua irmã e suas ex-colegas de trabalho. Sua primeira aparição foi final da temporada 1978-79, que representou um momento no qual fãs ficaram em êxtase por apresentar as quatro ‘panteras’ juntas!

1979 Jill (Farrah Fawcett) e Kris (Cheryl Ladd) @ Walt Disney Television via Getty Images Photo Archives/Walt Disney Television via Getty Images

Em junho de 1979, foi a vez de Kate Jackson também sair da série, sendo substituída pela modelo Shelley Hack, interpretado a personagem Tiffany Welles. Foi outro grande choque, pois sua personagem era a Tática, ou seja, aquela que determinava os movimentos das outras duas. Com a saída de Kate, Kelly assume a função. Kate ambicionava se tornar atriz de cinema. Fato que não aconteceu. Voltou a estrelar outras séries nas próximas décadas, porém, nenhum de grande destaque.

1980 As Panteras Jaclyn Smith, Shelley Hack e Cheryl Ladd @ Divulgação

Apesar de ser muito sofisticada, Shelley tinha pouca experiência dramática. O público reclamou que faltava ‘sensualidade’. Foi despedida. Na temporada seguinte, apostaram na sensual Tanya Roberts (vivendo Julie Rogers). A agência de Charles se mudou para o Havaí. Infelizmente, a fórmula parecia desgastada e a série foi cancelada.

1981 As Panteras Tanya Roberts, Jaclyn Smith e Cheryl Ladd @ Divulgação

Em 1977, “As Panteras” ganhou o People’s Choise Award (prêmio concedido por fãs) como ‘Novo Programa’. Também rendeu três indicações de melhor atriz para Kate Jackson no Globo de Ouro e duas ao Emmy. Farrah foi indicada ao Globo de Ouro pela única temporada que atuou. David Doyle, o divertido Bosley, também teve indicações aos dois prêmios.

As Panteras - 1976 @ Divulgação
As Panteras – 1976 @ Divulgação

 A Trama

Saídas da Academia de Polícia de Los Angeles, três belas mulheres foram contratadas pela Agência de Detetives do misterioso Charlie Townsend. O trabalho das moças era investigar crimes – sempre com fartas doses de glamour e exotismo. As três chamavam atenção na eficiência ao manejar armas e na astúcia para desvendar os casos.
A agência era gerenciada pelo homem de confiança de Charlie, John Bosley, que servia como intermediário entre o chefe e suas “Panteras”. A partir da segunda temporada, começou a participar mais ativamente nas operações de rua.
Sabrina Duncan tinha maior habilidade para se disfarçar e mudar de voz. Kelly Garrett era a mais calma e calculista e Jill Munroe usava da sensualidade para ajudá-la nas investigações.

Recebiam as missões via um aparelho de viva-voz – que se tornou o ‘gagdet’ mais famoso da época. Em diversas ocasiões, elas tentavam conhecer seu chefe, mas era impossível. Somente no último episódio da série, tanto o público quanto as detetives puderam finalmente conhecê-lo.
As missões das Panteras eram combater e desvendar crimes em diversos lugares, mas o destaque ficava mesmo por conta da beleza das jovens, dos seus lindos cabelos e pelo jeito especial para resolver os mistérios.

As Panteras 1976 – 1977 @ Reprodução

Por este motivo, Kate Jackson começou a se irritar. Era uma atriz ‘séria’, que pensava numa composição mais feminista para sua Sabrina Duncan. Com isto, a personagem ganhou a atenção das lésbicas, que copiavam seus looks, incluindo roupa e o corte cabelo.
Além de Kate, a falta de profundidade nos roteiros virou motivo de piada e zoação em Hollywood.

No mesmo ano, a CBS lançou a série “A Mulher Biônica”, estrelada por Lindsay Wagner, que foi construída numa imagem ‘mais real’ da mulher da década. O resultado agradou ao público, transformou a série num sucesso internacional por três temporadas.

Jaclyn Smith foi a única atriz a permanecer nas cinco temporadas. Após seu término, estrelou alguns filmes feitos p/TV, incluindo uma biografia da primeira dama Jacqueline Kennedy. Porém, seu destino ganharia outras cores.

Jaclyn Smith – a empresária

Jaclyn Smith @ John M. Heller – Getty Images

Graças a sua participação na série, ela se tornou o rosto da Max Factor, assinando um poderoso contrato. No final da série, ela fechou uma colaboração com a empresa Kmart, que era o segundo mais bem-sucedida magazine dos EUA. Ela assinou uma linha de roupas esportivas para as mulheres.
O resultado foi o cancelamento do contrato da Max Factor, que não queria sua embaixadora ligada a uma marca popular. Sem se abalar, ela negociou novos termos com a Kmart, exigindo que tivesse total participação no design e na construção dos lançamentos. Em agosto de 1985, a ‘Jaclyn Smith Collection’ chegava em 1.400 lojas da Kmart. Foi um sucesso absurdo.

Jaclyn Smith @ Ron Galella – Getty Images

Com isso, ela encorajou a empresa a apostar em tecidos de melhor qualidade, apostar em tons de bege, creme e preto ao contrário dos pastel. Sua ideia era apostar numa elegância minimalista. Outro sucesso.
Além das roupas esportivas, Jaclyn ampliou sua marca, apostando em acessórios, calçados, óculos solar e joias. Em 2007, ela lançou sua própria fábrica de tecidos. No ano seguinte, apostou em roupas de cama, mesa e banho, além de mobiliário.
Em 2010, com ajuda do marido, o médico Brad Allen, lançou uma linha de cuidados de pele. Com sua amizade com o cabeleireiro José Eber, lançou uma linha de perucas. E em 2014, lançou uma linha de roupas infantis com sua filha, Spencer Margaret.

Hoje, ela é considerada umas das atrizes mais ricas de Hollywood.

Outras Versões de ‘As Panteras’

O produtor Aaron Spelling tentou reviver ‘As Panteras’ no final da década de 80 com um elenco novo, porém, o piloto de Angels’ 88 nem chegou a ser exibido. Os tempos eram outros.

As ‘novelas noturnas’ “Dallas” e “Dinastia” eram a cara da década governada por Nancy e Ronald Reagan. O publico estava fascinado pelo jogo de poder entre famílias milionárias do ramo de petróleo. Era o auge da cafonice na TV estadunidense.

Dynasty 1981 @ Reprodução

Em 2000, Drew Barrymore foi uma das produtoras da versão “As Panteras” para o cinema, atuando ao lado de Cameron Diaz e Lucy Liu interpretando Dylan Sanders, Natalie Cook e Lucy Kiu. Arrecadou U$ 264,105 milhões de bilheteria interna e no mercado internacional. Com o sucesso,  a Columbia Pictures produziu uma sequência em 2003, “As Panteras – Detonando”, que levou U$ 259,175 milhões. Rodrigo Santoro fez uma participação especial.

Apesar de divertidos, ambos tinham problemas de roteiro e no desenvolvimento das personagens, que soaram datadas e caricatas para o novo milênio.
Em 2011, uma nova versão do seriado foi criada na rede ABC, estrelada por Rachael Taylor, Annie Ilonzeh e Minka Kelly. Apesar de não ser ruim, a emissora exibiu apenas quatro episódios, cancelando-a por falta de público.

No Brasil

A Rede Globo exibiu ‘As Panteras’ na faixa Quarta Nobre, e depois, já em reprise, na Sessão Aventura, no horário da tarde. Ainda, no início dos anos 1990 foi exibida pela TV Gazeta.
No mesmo período, o canal Fox reapresentou a série com outra dublagem (somente a dubladora Sumára Louise da personagem Sabrina continuou).

A Rede 21 voltou a exibir a série em 2004.

Curiosidades

  • O penteado de Farrah Fawcett, com seus cabelos loiros, longos e esvoaçantes, se tornou uma referência no final da década de 70. No auge, ela lançou uma linha de shampoos e condicionadores com seu nome para cabelos de todos os tipos.
  • Ternos masculinos, pantalonas, sleep dress, blusa de gola cacharrel  – usada com correntes douradas, sandálias plataformas e camisa xadrez usado com colete, se tornaram as principais referências da moda ocidental da segunda metade da década de 70.
  • Kate Jackson tinha o temperamento mais oscilante das três. Segundo tabloides, sua saída do seriado não foi devido ao seu desejo de se tornar uma atriz ‘séria’. Ela estava enfrentando problemas com o marido, o ator Andrew Stevens e continuamente discutia com o produtor Aaron Spelling para melhorar os textos de sua personagem.
  • Antes de participar da série, a atriz e cantora Cheryl Ladd havia trabalhado com Kate no filme “Satan´s School for Girls”, em 1973. Também emprestou a voz para o desenho animado “Josie e as Gatinhas”.
  • Os carros usados pelo trio eram clássicos dos anos 70: Kelly dirigia um Mustang, Jill tinha um White Cobra II e Sabrina, um Orange Pinto.
  • Em 1979, para o teste em substituição à atriz Shelley Hack, Michelle Pfeiffer quase ficou com o papel.
  • O clássico tema de abertura foi composto por Allyn Fergunson em parceria com Jack Elliot.
  • Farrah Fawcett, apareceu pela 1ª vez na revista Playboy em 1978. Não mostrou ‘tudo’. Somente em 1995, aos 48 anos de idade que mostrou tudo o que devia edição de aniversário da revista. Vendeu quatro milhões de exemplares.
  • No Emmy 2006, o trio original participou da homenagem ao produtor Aaron Spelling, que havia falecido naquele ano. Foi a última vez que se reuniram. Farrah enfrentaria uma longa batalha contra o câncer, que a mataria no mesmo dia do Michael Jackson, 25 de junho de 2009.
  • Em 2019, a atriz Elizabeth Banks dirigiu uma nova versão de ‘As Panteras’, estrelado por Kristen Stewart, Naomi Scott, Ella Balinska. Apesar de ser a melhor homenagem ao série dos anos 70, o filme foi um fracasso de bilheteria. Rendendo U$71,9 milhões de um custo de U$50 milhões.

(Fontes: InfanTV e IMDb)