As primeiras modelos pretas na história da moda e publicidade

Num universo dominado por brancas, as modelos pretas lutaram (e continuam a lutar) para conseguir espaço na indústria da moda. Antes de Naomi Campbell se tornar a primeira Supermodel da história, alguns nomes romperam barreiras, enfrentaram preconceitos e conquistaram um espaço.

Originalmente escrito em janeiro de 2011, Jorge Marcelo Oliveira apresenta as modelos pretas na história da moda – tanto internacional, quanto nacional.

De tempos em tempos, conforme a pesquisa ganha novos nomes, o artigo é atualizado.

Primeira Musa – Adrienne Fidelin 

Nascida na ilha de Guadalupe, a dançarina Adrienne Fidelin, 20 anos, conheceu o badalado fotógrafo Man Ray, 46 anos em 1936. Começaram a namorar, enquanto ela se tornara modelo e musa inspiradora. Era o auge do movimento Surrealismo. Ela se tornou amiga de Pablo Picasso, Dora Maar, Paul Éluard, Max Ernst, Leonora Carrington, Lee Miller e Roland Penrose.

Adrienne Fidelin @ Man Ray

Em 1937, Man Ray trabalhava para inúmeras revistas americanas, incluindo a Harper’s Bazaar. O dono da revista William Randolph Hearts proibia fotos de pretos em suas publicações, porém, Carmel Snow, sua editora de moda, tinha um prazer especial em contrariar as determinações do chefe.

Adrienne Fidelin na Harper’s Bazaar @ Lee Miller

Entre seus feitos foi convocar quatro fotógrafos para clicar Adrianne para uma matéria de duas páginas com o título ‘The Bushongo of Africa Sends His Hats to Paris’. Hoje, as fotos soam caricatas – eram imagens fetichistas do corpo preto. Apesar disso, Adrianne foi a primeira modelo preta a aparecer numa revista de moda.

A Pioneira – Dorothea Towles Church

A texana Dorothea Towles Church foi a primeira modelo preta a pisar nas  passarelas de Paris.

Sétima filha de uma família de agricultores estadunidense, ela se graduou em Biologia antes de se mudar para Los Angeles. Também fez mestrado em Educação na Universidade do Sul da Califórnia.

Queria ser atriz, mas foi desencorajada pela falta de bons papéis para atores pretos na década de 40. Acabou se matriculando numa escola de modelos (primeira preta do curso) e começou trabalhar em eventos para da comunidade na Costa Oeste.
Dorothea Towles Church @ Divulgação
Dorothea Towles Church @ Divulgação

Em 1949, enquanto acompanhava a turnê do coral que sua mãe se apresentava em Paris, Dorothea começou a trabalhar como modelo. Chamou a atenção de Christian Dior, que a convidou para substituir uma das modelos contratadas, que saiu de férias.

Dorothea Towles Church em Paris @ Reprodução
Dorothea Towles Church em Paris @ Reprodução

Durante cinco anos, ela foi tratada como estrela nas passarelas francesas, se tornando umas das principais modelos da década de 1950. Em abril de 1953 posou para a revista preta, a JET. Anos depois, a pedido de Dior, pintou seu cabelo de loiro e foi capa da revista Sepia.

Dorothea Towles Sepia Magazine 1959 @ reprodução

 

Apesar do sucesso, Dorothea passou por situações desagradáveis. Quando foi convidada para fotografar para a revista Ebony – sucesso da época – o estilista Pierre Balmain não permitiu que ela usasse uma de suas criações, alegando que as clientes brancas ficariam ofendidas. Abusada, com o pretexto que usaria a mesma roupa numa festa, Dorothea pegou o vestido e foi para o estúdio fotografar.
Quando trabalhava no ateliê da estilista Elsa Schiaparelli ouvia alguém a descrever como “Taitiana”. Era uma expressão para se referir a alguém considerada ‘exótica’… Seja lá o que isso queria dizer!
Dorothea Towles Church em Berkeley, California @ Reprodução
Dorothea Towles Church em Berkeley, California @ Reprodução

Em 1955, quando voltou para os EUA, produziu desfiles para cursos frequentados para pretos. Estes eventos funcionaram para angariar fundos para a criação da primeira irmandade de mulheres negras em universidades americanas: a Alpha Kappa Alpha.

Mais tarde, Dorothea assinou contrato com uma agência de Nova York, onde modelou até conhecer o advogado Thomas Church. Em 1963, ela abandonou a agência para se casar. Tiveram um filho e permaneceram casados até a morte do marido em 2000.
Dorothea morreu seis depois, aos 83 anos, em Nova York, por problemas cardíacos e nos rins.

Primeira Agente – Ophelia DeVore

Mistura de africana, cherokee, francesa e alemã, Ophelia DeVore nasceu em Edgefield, Carolina do Norte, em agosto de 1922. Filha de John Walter DeVore e Mary Emma Strother, ela teve nove irmãos.

Ophelia Devore @ Reprodução
Ophelia Devore @ Reprodução

Começou a modelar aos 16 anos. Alguns anos depois, frequentou a Vogue School of Modeling, em Nova York.

Em 1945 foi capa da revista Ebony, que garantiu sua ida para Noruega e depois para Paris, onde trabalhou com alguns estilistas. Em 1946, voltou para os EUA e, ao lado de alguns colegas, fundou a The Grace Del Marco Agency, a primeira agência a trabalhar exclusivamente com pretos. Dois anos depois, Ophelia implantou um curso de Elegância e Etiqueta.

Ophelia Devore @ Reprodução
Ophelia Devore @ Reprodução

Entre os primeiros nomes que lançou estavam a modelo Helen Williams e os atores Cicely Tyson (a mãe de Annalise Keating – Viola Davis, na série ‘How To Get Away With a Murder’) e Richard Rountree. A agência conseguiu clientes poderosos, como a Budweiser, Bulova e Johnson & Johnson.

Ophelia Devore @ Reprodução
Ophelia Devore @ Reprodução

Também foi responsável por ajudar Diahann Carroll a decolar na carreira como atriz. Em 1962, Diahann ganhou um Tony Awards pela atuação no musical ‘No Strings’. Em seguida, aceitou o convite para protagonizar “Julia”, série da NBC sobre uma enfermeira jovem e viúva. Com três temporadas, o programa é considerado o primeiro estrelado por uma atriz preta num papel não estereotipado. Ela ganhou um Globo de Ouro de Melhor Atriz em 1969.

Diahann Carroll @ divulgação

Voltando a Ophelia, sua agência promovia desfiles em igrejas, campos universitários e salões de festas nos hotéis Diplomat e Waldorf-Astoria.
Em fevereiro de 2014, Ophelia morreu aos 81 anos, em Manhattan. Um ano antes, em entrevista ao site The Grio, ela contou:

Eu quis mudar a forma como os negros eram vistos nos Estados Unidos. Eu quis que a América soubesse que a beleza não é apenas branca”.

Primeira Estrela da Publicidade – Helen Williams Jackson

Helen Williams Jackson foi a primeira modelo preta a estrelar campanhas publicitárias nos EUA.

Nascida na Nova Jersey, desde cedo, se interessou por artes. Fez aulas de dança, artes e interpretação. Aos 17 anos, conseguiu emprego como produtora de moda num estúdio fotográfico em Nova York. Entre os clientes estavam os cantores/atores Lena Horne e Sammy Davis, Jr, que a incentivaram a mudar de lado e se tornar modelo.

Helen Willaims @ Reprodução
Helen Willaims @ Reprodução

Estampou as capas para as revistas Ebony e Jet – publicações direcionadas ao público preto na época, porém, as coisas eram bem complicadas nos EUA do final da década de 1950.

Ela contou: “Eu era muito escura para ser aceita”. Percebendo que sua carreira não ia para frente, viajou a Paris em 1960, onde trabalhou com os estilistas Christian Dior e Jean Dessès. Naquela época, ganhava U$ 7 mil por trabalhos de meio período e… Três pedidos de casamento, incluindo de um francês. Não aceitou nenhuma. Estava disposta a voltar para os Estados Unidos, o que aconteceu um ano depois. Acreditava que as coisas tinham melhorado.

Helen Willaims @ Reprodução
Helen Willaims @ Reprodução

Ledo engano. Passava até duas horas nas recepções das agências para ouvir uma sucessão de negativas. Cansada, ela resolveu botar a boca no trombone. Pouca gente deu atenção, até que, Dorothy Kilgallen e Earl Wilson, dois jornalistas brancos, se interessarem pela pauta. Escreveram uma matéria que denunciava o racismo no mercado da moda e publicidade na América.

Funcionou. Helen estrelou campanhas para a Budweiser, Kodak, Sears, Bacardi, Bulova, Cigarros Kent, Montclair, entre outros. Ela também estrelou editoriais para o The New York Times e revistas Life e Redbook. Em 1961, ganhava U$ 100 por hora de trabalho.

Helen foi uma das primeiras clientes da agência de modelos Grace De Marco de Ophelia DeVore.

Helen Williams Tan Magazine - Fevereiro 1960 @ Reprodução
Helen Williams na Tan Magazine – Fevereiro 1960 @ Reprodução

Em 1970, ela se aposentou como modelo, mas continuou sua carreira como produtora de moda. Se casou com Norm Jackson em 1977, que conheceu na época que modelava.

Em 2004, ela recebeu o Traiblazer Award da Organização Fashion & Arts xChange, numa cerimonia no New York Fashion Institute of Technology.

É creditada como uma das principais modelos a quebrar a barreira racial na indústria da moda e da publicidade.

Primeira Cover Girl – Donayle Luna

Donyale Luna foi a primeira modelo preta na capa de uma grande publicação dos EUA. Era a edição de janeiro de 1965 da Harper’s Bazaar.

Donyale Luna Harper's Bazaar 1965 @ Reprodução
Donyale Luna Harper’s Bazaar 1965 @ Reprodução

Em março de 1966, ela se tornou a primeira modelo preta na capa da Vogue Britânica.

Donyale Luna @ Photo by Time Life Pictures/Pix Inc./Time Life Pictures/Getty Images

De acordo com o jornal The New York Times, Donyale tinha um contrato de exclusividade com o fotógrafo Richard Avedon.

Donyale Luna Vogue UK 1966 @ Reprodução
Donyale Luna Vogue UK 1966 @ Reprodução

Num artigo publicado pela revista Time em 01 de abril de 1966 com o título “The Luna Year”, a publicação confirmava seu sucesso. No ano seguinte, a fabricante de manequins de loja Adel Rootstein criou um modelo inspirado no corpo de Donyale.

Donyale Luna Queen Magazine Março 1968 @ Reprodução
Donyale Luna Queen Magazine Março 1968 @ Reprodução
Paralelo a carreira de modelo, Donayle participou de filmes de Andy Warhool, Federico Fellini, Otto Preminger e em 1972 protagonizou “Salomé”, dirigido pelo italiano Carmelo Bene. Contudo, sua carreira terminou sete anos depois quando morreu de overdose. Ela estava com 34 anos.

Primeira Top – Naomi Sims

Depois de se graduar em psicologia pela New York University, Naomi Sims bateu nas portas de várias agências de modelo. Só recebeu negativas, com a justificativa que “sua pele era muito escura”. A coisa mudou quando o fotógrafo Gosta Peterson a colocou na capa do Fashion of the Times, suplemento de moda do jornal The New York Times, de 1967.
Naomi Sims - Fashions of the Times - The New York Times Magazine - Agosto 1967 @ Gosta Peterson
Naomi Sims – Fashions of the Times – The New York Times Magazine – Agosto 1967 @ Gosta Peterson
Apesar disso, sua carreira continuava empacada. Até que Wilhelmina Cooper, uma ex-modelo da Ford, que acabara de abrir uma agência, recebeu uma das cópias da Fashion of the Times, que tinha sido enviada a diversas agências de publicidade. Resultado: Naomi estrelou a campanha nacional da empresa de telefonia AT&T (usando roupas do estilista Bill Blass). Um ano depois, seu cachê era de U$ 1.000 por semana.
Naomi Sims - Ladies' Home Journal - Novembro 1968l @ Reprodução
Naomi Sims – Ladies’ Home Journal – Novembro 1968l @ Reprodução
Em Novembro de 1968, apareceu na capa da revista Ladies’ Home Journal e um perfil no The New York Times, que apontou que Naomi era o melhor retrato do movimento “Black is Beautiful”. No ano seguinte, foi a capa de outubro da Life – a mais famosa publicação da época – , com o título: ‘Black Models Talk Center Stage’.
Naomi Sims - LIFE Magazine - Outubro 1969 @ Reprodução
Naomi Sims – LIFE Magazine – Outubro 1969 @ Reprodução
Naomi se tornou a primeira modelo preta a estrelar uma campanha para a gigante da marca de cosméticos Revlon, em 1970. Dois anos depois, um produtor de cinema a convidou para estrelar “Cleopatra Jones”. Ela se empolgou. Contudo, depois de ler o roteiro, recusou, afirmando que o filme era racista.
Em 1976, ela lançou uma linha de perucas para as mulheres pretas, a Naomi Sims Collection. O sucesso resultou na abertura de uma bem-sucedida empresa. Além das perucas, criou produtos para pele, cabelos e maquiagem para negras, que são vendidos com sucesso até hoje.
Naomi morreu de câncer de mama em agosto em 2010. Ela estava com 61 anos.

Primeira Negra em Revista Teen – Katite Kironde II

Katiti Kironde Glamour College - Agosto 1968 @ Reprodução
Katiti Kironde II Glamour College – Agosto 1968 @ Reprodução
Katiti Kironde II era uma estudante de Harvard com interesse em moda. Ela sabia que era bonita, mas achava que sua beleza era ‘diferente’ – não o tipo que era celebrado pela indústria. Um dia, se inscreveu no concurso da Glamour Magazine: ‘A mais bem vestida garota da faculdade’. Ganhou e sua foto estampou a capa da revista.
A edição de agosto de 1968 da revista Glamour foi a primeira publicação de moda estadunidense voltada a adolescentes a colocar uma mulher preta em sua capa. Resultado: a edição vendeu milhões de cópias.
Depois da revista, Katiti trabalhou para grandes companhias como TJ Maxx e Laura Ashley, lançou uma linha de camisas brancas e, mais tarde, voltou a Harvard para lecionar ‘Intro of Fashion’, o primeiro curso do gênero numa universidade.

Primeira Porta Voz das Modelos Negras: Bethann Hardison

A estilista Diane von Fursterberg declarou que Bethann Hardison era ‘a avó de todas as maravilhosas e lindas modelos’. Em 50 anos de carreira, Bethann foi modelo, agente, editora convidada Vogue Itália e porta voz da diversidade racial.

Bethann Hardison Essence Magazine – Outubro 1974 @ Hugh Bell

Antes de lançar sua agência em 1984, ela começou sua carreira como modelo e rapidamente se tornou musa de criadores da moda, como Stephen Burrows, Halston e Willi Smith.
Ela foi uma das 11 modelos pretas que participaram da ‘Batalha de Moda em Versailles’ que aconteceu em 28 de novembro 1973. Foi um acontecimento que envolveu estilistas da França e Estados Unidos para arrecadar fundos para a restauração do Palácio.

Bethann Hardison, Pat Cleveland, Ramona Saunders, Josephine Baker, Billie Blair – Passarela A Batalha de Versailles, 1973 @ Acervo Pessoal

Ao seu lado, Pat Cleveland, Billie Blair, Jennifer Brice, Alva Chinn, Norma Jean Darden, Charlene Dash, Barbara Jackson, Ramona Saunders, Amina Warsuma e a cantora e personalidade Josephine Baker.

Bethann Hardison – Passarela A Batalha de Versailles, 1973 @ Acervo Pessoal

Em 1988, ao lado da amiga Iman, Bethann lançou o Black Girls Coalition que oferecia ajuda legal aos modelos pretos dos EUA. Em 1996, foi produtora executiva das séries de TV ‘Between Brothers’ e ‘Livin Large’.

Bethann Hardison – Teste de foto em 1968 – Fotógrafo Desconhecido

Bethann se tornou Editora Convidada da Vogue Itália em 2010. Em 2019, trabalhou como Consultora da Gucci e do CFDA – Council of Fashion Design of America.

Bethann Hardison – Document Journal Spring Summer 2014 @ Mark+Abrahams

Desde então, ganhou diversas honrarias pela atuação como porta-voz da diversidade na moda.

Moda+Atitude – Grace Jones

Grace Jones é a maior representante do conceito Imagem+Atitude da década de 1970 e 1980. Nascida na Jamaica (o pai era pastor Pentecostal), aos 13 anos se mudou com a família para Salina, próxima a Syracuse, Nova York.
Naquele momento, ela se rebelou contra o fanatismo religioso dos pais, começou a usar maquiagem, beber e frequentar clubes gays ao lado do irmão. Na escola, seu professor de teatro a convidou a acompanha-lo numa viagem de verão para Filadélfia. Gostou da cidade. Resolveu ficar, morou numa comunidade hippie e começou a trabalhar como Go-go dancer em boates, enquanto experimentava diversas drogas, como o LSD.

Grace Jones Essence Magazine @ Anthony Barboza

Aos 18 anos, voltou a Nova York e assinou contrato com a agência de Wilhelmina Cooper, que a enviou para Paris. Era 1970 e sua figura alta, esguia e andrógina encantou Yves Saint Laurent, Claude Montana, Kenzo Takada e Azzedine Alaia – que se tornou seu amigo. Posou para as lentes de Helmut Newton, Guy Bourdin, Jean-Paul Goude e Hans Feurer para as capas das revistas Elle,Vogue e Stern.

Primeiro trabalho de Grace Jones – Revista Essence, 1970 @ Anthony Barboza

Quando modelava em Paris, dividiu apartamento com Jerry Hall (futura Sra. Mick Jagger) e a multipremiada atriz Jessica Lange. A primeira era sua companhia para as noites na Le Sept, um dos mais famosos clubes gays de Paris, onde conheceu Giorgio Armani e Karl Lagerfeld. Nessa época, Grace foi estrela da capa do disco Ebony Woman do cantor Billy Paul, em 1973.

Grace Jones 1970 @ Anthony Barboza

Além de modelar, ela cantava. Assinou com a Island Records para lançar o álbum ‘Portfolio’, no qual interpretava uma versão de sete minutos do clássico de Edith Piaf ‘La Vie em Rose’, além das canções, ‘Sorry’, ‘That’ the Trouble’ e ‘I Need Man’, que se tornou um sucesso da Disco Music. A foto de capa do álbum foi assinada por Richard Bernstein – designer da revista Interview.

Grace Jones Portfolio 1977 @ Richard Bernstein

A moda perdeu uma referência única e o mundo da música ganhou uma Diva cheia de atitude, que influenciou TODAS as cantoras pops que surgiram desde então.

Vogue América – Beverly Johnson

Beverly Johnson - Vogue America - Agosto 1974 @ Reprodução
Beverly Johnson – Vogue América – Agosto 1974 @ Reprodução
De uma família de classe média de Buffalo, Nova York, Beverly Johnson se tornou campeã de natação, enquanto planejava ser advogada. Depois da graduação no colégio em 1969, ela entrou para o curso de direito criminal na Northeastem University. No verão de 1971, começou a modelar. Logo assinou com a revista Glamour.
Quebrando um tabu de 82 anos de sua história, a Vogue América colocou Beverly na capa da edição de agosto de 1974. Um ano depois, Beverly também seria a primeira preta na capa Elle dos EUA. Nos próximos anos, Beverly estrelou 500 capas de revista no mundo todo. Desde, então, continuamente, os estilistas estadunidenses começaram a colocar negras em seu casting.
Ela se tornou escritora e participou como atriz em diversas séries da TV, como “Law & Order” e “Lois & Clark: The New Adventures of Superman”. Participou de duas temporadas do reality series “She’s Got The Look”, no qual 36 mulheres acima dos 35 anos competiam pelo título de Supermodel “acima dos 35”. No mesmo ano, ela revelou que ela e suas colegas eram pressionadas a manter a magreza, resultando em casos de anorexia e bulimia.
Assim como sua colega, Naomi Sims, Beverly também lançou uma bem-sucedida linha de perucas, chamada Beverly Johnson Hair Collection.
Beverly Johnson 2010 @ Reprodução
Beverly Johnson 2010 @ Reprodução

Na vida pessoal, Beverly namorou o ator Chris Noth, o Mr. Big, de “Sex And The City”. Em 2006, ao lado de Tina Turner, Coretta Scott King e Rosa Parks, Beverly foi uma das premiadas no Oprah Winfrey’s Legends Ball – evento que celebrava as mulheres pretas que se destacaram no campo do entretenimento, direitos civis e artes. O jornal The New York Times a nomeou como uma das mais influentes pessoas da moda no século XX.

Outras negras na capa da Vogue América

Depois de Beverly, outros nomes foram estrelas das capas da Vogue América: Peggy Dillard-Tonne (Agosto 1977 e Agosto 1978), Sheila Johnson (Março 1980), Shari Belafonte Harper (com cinco capas: Dezembro 1982, Fevereiro 1984, Janeiro e Maio 1985 e Junho 1986), Louise Vyent (Fevereiro 1987), Kara Young (Abril 1988 e Outubro 1989), Karen Alexander (Janeiro 1989) e Kiara Kabukuri (Julho 1997). Seguidas por diversas capas com Naomi Campbell, Liya Bebede, Jourdan Dunn, Joan Smalls e Malaika Firth.

Modelo e empresária de beleza – Iman 

Filha de embaixador e de uma médica ginecologista, a somaliana Iman assinou seu primeiro contato como modelo para a Vogue, em 1976. Em seguida, apareceu em diversas publicações mundiais, estrelou campanhas para Gianni Versace, Calvin Klein, Donna Karan e Yves Saint Laurent, que a elegeu como sua favorita.
Iman em 1979 e em 2014 @ Getty
Iman em 1979 e em 2014 @ Getty

Nos 14 anos como modelo, Iman trabalhou com os principais fotógrafos de moda, como Helmut Newton, Richard Avedon, Irving Penn e Annie Leibovitz. Casou-se com David Bowie em 1992 e lentamente começou a se afastar das passarelas. Fez participações especiais em séries de TV, como ‘Miami Vice’ e em filmes como ‘Sem Saída’, ao lado de Kevin Costner e “Entre Dois Amores”, ao lado de Meryl Streep e Robert Redford).

Em 1994, ela lançou uma linha de maquiagem, produtos de pele e perfumes voltadas ao consumidor negro, a Iman Cosmetics. Dez anos depois, a empresa foi incorporada a Proctor And Gamble e Iman se manteve como diretora executiva.

Iman é embaixadora oficial do projeto “Mantenha uma Criança Viva”, que distribui medicamentos para crianças portadoras do HIV/AIDS na África e Índia. Em junho de 2010, recebeu o prêmio Fashion Icon do Conselho de Estilistas Americanos (CFDA), dado a ‘pessoas que criaram um estilo que influencia o mundo da moda’.

Contrato com a Revlon – Veronica Webb 

O nome de Veronica Webb é mais associado ao fato de ser a primeira modelo preta a assinar um contrato exclusivo com a poderosa marca de maquiagem, Revlon, em 1992.

Veronica Webb Revlon @ Reprodução
Veronica Webb Revlon @ Reprodução

Nas passarelas, desfilou para Chanel, Azzedine Alaia, Isaac Mizrahi, Todd Oldham e Victoria’s Secret. Foi capa da Vogue, Essence e Elle e por cinco anos, foi colunista da revista Paper. Também escreveu para as revistas e jornais Details, Esquire, The London Sunday Times e The New York Times Syndicate.
Como atriz, participou dos dois mais importantes filmes do cineasta Spike Lee “Malcom X” e “Febre na Selva”. Na TV, ela apresentou programas na MTV, VH1, E! Entertainment, Fashion TV e Fox Entertainment, além de correspondente para a HBO News, “Good Morning America” e da BBC.

Supermodel of the World

A inglesa Naomi Campbell é case de sucesso. Filha de uma dançarina da Jamaica, Naomi nasceu em Londres e nunca conheceu o pai, que abandonou a mãe quando estava no quarto mês de gravidez. Na infância, graças ao trabalha da mãe, morou em Roma. De volta a Londres, estudou ballet na conceituada Italia Conti Academy of Theatre Arts. Aos sete anos, apareceu no videoclipe ‘Is This Love’, de Bob Marley. Aos 12, no videoclipe ‘I’ll Tumble 4 Ya’, do Culture Club. Em 1986, quando olhava vitrines em Covert Garden foi descoberta por Beth Boldt, que logo a colocou na capa da ELLE britânica. Ela tinha 16 anos.

Naomi Campbell – Vogue Paris – Agosto 1988 @ Reprodução
Nos próximos anos, desfilou para Gianni Versace, Azzedine Alaïa e Issac Mizrahi, posou para as lentes de Peter Lindbergh, Herb Ritts e Bruce Weber.
No final da década de 80, Naomi, Christy Turlington e Linda Evangelista formaram o ‘Trinity’- trio de modelos mais famoso da sua geração.
Naomi Campbell – Vogue – Setembro 1989 @ Reprodução

Em dezembro de 1987, ela foi a segunda modelo preta na capa da Vogue Britânica, desde que Donyale Luna em 1966.

Em agosto de 1988, ela foi a primeira modelo na capa da Vogue Paris. Isto só aconteceu porque seu amigo e mentor, o estilista Yves St. Laurent, ameaçou cancelar a publicidade de sua grife caso eles continuassem a recusar modelos negras nas capas nas revistas. No ano seguinte, ela estava na capa da Edição de Setembro da Vogue América, quebrando um novo conceito – até a crise do papel no século XXI, era o mês mais concorrido pelo mercado publicitário da moda nos EUA.

Em janeiro de 1990, ao lado de Christy, Linda, Cindy Crawford e Tatjana Patitz, Naomi estrelou a icônica capa da Vogue Britânica em fotos de Peter Lindbergh. O mesmo grupo estrelaria o videoclipe ‘Freedom! 90’, de George Michael, que se tornaria uma febre mundial.

Com o acréscimo da alemã Claudia Schiffer, elas ganharam o título de ‘Supermodels’ pela indústria da moda. Foi um momento que modelos se tornaram mais famosas do que as estrelas de Hollywood. Na época, o cinema tinha apenas um nome em evidência: Julia Roberts.

Naomi Campbell @ divulgação

Nos próximos anos, Naomi estrelou diversas outras capas da Vogue, esteve no polêmico livro ‘Sex’ de Madonna, estrelaria videoclipe de Michael Jackson e apareceria em papéis menores no cinema e televisão.

Naomi – campanhas 2009 @ divulgação

Em 1998, a revista Time declarou o fim da era das Supermodels. Na época, Naomi anunciou que estava se aposentando das passarelas, mas não das campanhas publicitárias. Em 1990, ela assinou um milionário contrato com a Wella, que rendeu o lançamento de sete fragrâncias.

Naomi Campbell Fragrância Mystery @ Mert & Marcus
Naomi Campbell Fragrância Mystery @ Mert & Marcus

Em novembro do mesmo ano, posou ao lado de outras tops models para ‘Modern Muses’, edição Millennium da Vogue América, clicada por Annie Leibovitz. No mês seguinte, apareceu com um biquíni branco e casaco de peles na Playboy.

Com 30 anos de carreira, Naomi continua a reinar como uma celebridade da moda. Faz campanha, encerra desfiles, aparece em séries de TV, tapete vermelho de Cannes, videoclipes e continua em diversas capas de revista.

Primeira Top Model com traços africanos

Fugindo da estética vigente das mulheres pretas com traços europeus aceito pela indústria da moda, Alek Wek surgiu para quebrar padrões. Nascida na África, com pele retinta, rosto redondo, bocão e careca, ela foi descoberta por um agente quando passeava com uma amiga num mercado de Londres.

Alek Wek @ Divulgação
Alek Wek @ Divulgação

Depois de uma vida desgraçada em Wau, sul do Sudão (recomendo a leitura do livro ‘Alek Wek – A refugiada africana que virou top model internacional’), região marcada pela guerra e uma infância e adolescência respirando pobreza e subnutrição, sua vida mudou quando se tornou uma refugiada na Inglaterra. Lá, estudou, tornou-se babá dos filhos da irmã, faxineira na BBC e assistente de cabelo num salão frequentado por mulheres árabes, que faziam bullying por sua aparência ‘exótica’.

Alek Wek - Campanha United Colors of Benetton @ Divulgação
Alek Wek – Campanha United Colors of Benetton @ Divulgação

Com uma baixa autoestima causada pelos problemas de pele – sofria de psoríase, que deixava suas mãos em carne viva, curada somente aos 16 anos quando chegou na Europa – Alek demorou para acontecer.

Agenciada na Ford, fez uma sucessão de trabalhos gratuitos ou com cachês minúsculos, sempre com o título ‘Ela foi descoberta no meio do mato africano’, que a magoava demais. Apareceu (bem ‘mais ou menos’) no clipe ‘Golden Eye’, de Tina Turner e fez alguns trabalhos em Nova York, como a campanha da Lavazza, em fotos de Albert Watson, em 1997.

Alek Wek - Campanha Lavazza @ Albert Watson
Alek Wek – Campanha Lavazza @ Albert Watson

Naquele ano, Alek conheceu o fotógrafo Gilles Bensinom, diretor de criação da Elle dos EUA. Era o melhor momento da publicação, quando se colocava na vanguarda da moda, tentando desafiar os padrões estéticos da época. Criaram uma parceria e Alek esteve em vários editoriais, mas nunca na capa. Somente modelos brancas tinham este espaço. Um dia, a agente de Alek ligou para o fotógrafo exigindo uma capa.

Na época, a equipe de marketing ‘apresentava’ pesquisas afirmando que as pessoas não comprariam revistas com mulheres que tivessem traços estadunidenses padrões. Depois de muita insistência, Gilles conseguiu.

Alek Wek Elle Abril 1998
Alek Wek Elle Abril 1998

A edição foi um mega sucesso. Todos os jornais e revistas dos Estados Unidos falavam sobre a capa, que desafiava um século de domínio de um tipo tradicional de beleza – pretas, mas com traços delicados, quase europeus. Alek se tornou a primeira Africana na capa de uma grande publicação de moda internacional.
Sua vida mudou. De uma hora para outra, ela se tornou uma celebridade. A revista recebeu elogios de pessoas do mundo inteiro. Quase todos diziam ter achado a foto da capa libertadora.
Sua carreira, enfim, finalmente decolou. Pelo menos, durante um tempo específico.

Outros nomes de sucesso

Tyra Banks, Liya Kebebe, Chanel Iman, Joan Smalls (eleita no. 1 do site da Models), Jourdan Dunn, Malaika Firth e Sessilee Lopez foram nomes de sucesso nas décadas de 90 e 2000.
Tyra Banks no Victoria’s Secret Fashion Show 1998 @ JON LEVY/AFP/Getty Images
Nos Estados Unidos, Tyra Banks se tornou tão famosa quanto Naomi, principalmente por integrar o casting da Victoria’s Secret e se tornar apresentadora do reality show ‘American Next’s Top Models’, que está na 24ª temporada.

Enquanto isso, no Brasil…

Emanuela de Paula se tornou a primeira modelo preta a estrelar na capa da Vogue Brasil, em janeiro de 2011. Foi a quebra de um paradigma nos 35 anos de  publicação no país.
Outros nomes que chamaram a atenção na moda nacional foram Gracie Carvalho, Laís Ribeiro, Samira Carvalho, Rojane Fradique, Carmelita Mendes e Ana Bela. Porém, antes delas, dois nomes fizeram algum barulho: Luana de Noialles e Veluma.
Emanuela de Paula Vogue Brasil Janeiro 2011
Na década de 70 e 80, o nome da baiana Luana de Noialles se destacou no cenário nacional e internacional.
Nascida Raimunda Nonata do Sacramento, Luana foi descoberta aos 16 anos e trabalhou para a indústria têxtil Rhodia, desfilando para a Fenit. Mais tarde, na década de 70, por incentivo do estilista Paco Rabanne, embarcou para Itália e França, no qual trabalhou na agência de Catherine Harley. A partir daí, desfilou para para Yves Saint Laurent e Christian Dior.luana_de-noailles
Em 29 de outubro de 1977, Luana se casou com o conde francês Gilles de Noailles, tornando-se a Condessa de Noailles. Com o casamento, abandonou as passarelas.
Em 1982, sua história chamou a atenção de Joãosinho Trinta, ao escalar os nomes dos homenageados para o enredo “A grande constelação das estrelas negras”, que rendeu o título para a Beija-Flor em 1983.
Atualmente, Luana vive em Paris.

Veluma

Na virada dos anos 80 para os 90, ao lado de Luiza Brunet, Monique Evans, Vicki Schineider e Lívia Mund, Veluma foi uma das mais badaladas modelos brasileiras, que faziam tanto aqui, quanto no mercado internacional.

Veluma @ Divulgação
Veluma @ Divulgação
Nascida em 13 de julho de 1953 no interior de São Paulo, Vera Lúcia Maria começou a desfilar aos 17 anos. Virou atriz e participou da montagem teatral de ‘O homem e o cavalo’, de Oswald de Andrade (1991). No cinema atuou em ‘Testamento do Senhor Nepomuceno’, ao lado de Nelson Xavier e na televisão, atuou em novelas da Rede Globo como a primeira versão de ‘Ti-ti-ti’, em 1985. Depois apareceu em ‘Gente Fina (1990)’ e ‘Caras e Bocas (2009)’. Recentemente, ela criou um curso de modelos.
Jorge Marcelo Oliveira @ Divulgação

Artigo escrito originalmente em 04/01/2011 por Jorge Marcelo Oliveira – desde, então, a cada pesquisa, faço acréscimos!

10 comentários sobre “As primeiras modelos pretas na história da moda e publicidade

  1. Karine,
    Um dos lemas do MONDO MODA é questionar padrões pré-estabelecidos! Todos!
    E, particularmente, falar de minorias, é um ponto muito importante!
    Obrigado pela mensagem.
    Abs

    Curtir

  2. É MUITO IMPORTANTE RESSALTAR A REAL BELEZA DA MULHER NEGRA SEJA AMERICA OU BRASILEIRA É UM PRESTIGIO,SOU NEGRA E VEJO QUE A BELEZA DA NEGRA SEMPRE ESTA BEM ESCONDIDA EM FUNÇÃO DE MUITO PRE-CONCEITO E PRECONCEITO.MAIS TENHA PARA DIZER QUE NO BRASIL O PRECONCEITO É BEM MAIOR SENDO ELA BONITA LINDA NÓS NÃO TEMOS VEZ AQUI NO BRASIL QUE PENA .EU PARTICULARMENTE GOSTEI MUITO DESTA REPORTAGEM MUITO BOM MESMO RESALTAR ESSA BLEZA QUE ESTA SEMPRE POR TRÁZ DAS CÂMERAS .

    Curtir

  3. Ola Jorge, na Feijuka do Banco de Olhos nos encontrei…e como vc recomendou, estou aqui acompanhando tudo. Parabéns pela materia sobre as Divas Negras, adorei!!! Grande Beijo! Pâmela Abreu

    Curtir

Os comentários estão desativados.