Ontem descobri a história de Evelyn Preer, a “Primeira Dama Negra das Telas de Cinema”, como ficou conhecida na comunidade preta da época, na década de 1920, do século XX.
Fui devorando as poucas informações encontradas. Acabei encontrando uma página no Facebook em sua homenagem. Entre as reproduções originais em preto e branco, optei pelas remasterizadas. Achei que era necessário entender que realmente ela era negra.

Lembrei-me de uma fala do ator Robson Nunes no quadro ‘Show dos Famosos’ no programa do Luciano Huck. Ele homenageou Mano Brown, vocalista do grupo Racionais MC’s, que nunca pisou em qualquer programa da TV Globo.
Depois de sua incrível performance, Robson nos presenteou com uma excelente fala sobre a questão de ‘graduação do tom da pele’.
Contou que até criou um Stand-up com o nome ‘Afrobege’, termo que alguém usou para defini-lo. Afinal, segundo o pensamento do autor da expressão, o grau de ‘negritude’ do ator era equivalente ao ‘bege’. Aí, você pode se perguntar: “Mas quem é que pensa assim?”
Então… Quantos negros de raças misturadas não ouviram isto: ‘Mas você não é negro! Você é moreno, mulato, bronzeado, tom de canela, bla-bla-bla…!’

E quem diz isto acredita que está sendo ‘bacana’. Afinal, dizer que alguém é ‘menos’ preto ‘soa melhor em certos setores da sociedade’.
Mas, enfim… Voltando a Evelyn, conforme pesquisava, fui me questionando o quanto ela deve ter sofrido. O fato de a mesma ter se tornado a protagonista dos filmes do cineasta negro Oscar Micheaux explicava muita coisa.
Ela estreou no cinema aos 23 anos em 1919, fez peças teatrais, participou como backing vocal para Duke Ellington e diversas participações não creditadas em filmes de grandes estúdios. Quando sua carreira parecia que daria uma guinada – tornar-se conhecida entre o público branco, morreu graças a uma pneumonia adquirida no hospital após dar a luz à sua única filha.

Evelyn foi uma pioneira. Assim como Hattie McDaniels, que foi a primeira atriz negra a ganhar um Oscar em 1940 por sua atuação como a ‘mãe de leite’ Mammy em ‘… E o Vento Levou’, um dos maiores sucessos de bilheteria da história do cinema dos EUA. O papel era horrível, mas pelo menos a atriz foi premiada. Porém, as coisas também não foram fáceis para ela.
Hattie foi proibida de sentar-se à mesa dos colegas brancos indicados ao prêmio. Sentou-se numa cadeira no fundo do Dorothy Chandler Pavillion, em Los Angeles. Só apareceu no palco porque seu nome foi anunciado.
A vitória de Hattie McDaniel também foi celebrada por alguns jornais da época. O Daily Variety escreveu:
“Não é apenas a primeira de sua raça a vencer o Oscar. Foi a primeira negra a ser convidada para ir cerimônia do Oscar”.
Demorou dez anos para outra atriz negra ser indicada ao Oscar. Foi Ethel Waters em ‘Pinky’, em 1949. Perdeu. Demorou 51 para outra vencer. Aconteceu em 1990 quando Whoopi Golberg venceu pela atuação ‘Ghost’.
Desde então, a categoria (coadjuvante) premiou outras seis atrizes – Jennifer Hudson (2006), Mo’Nique (2009), Octavia Spencer (2011), Lupita Nyong’o (2013), Viola Davis (2016) e Regina King (2018).
Na categoria Melhor Atriz, Halle Berry continua sendo a única atriz preta a vencer pela atuação em ‘A Última Ceia’, em 2001. Antes, Dorothy Dandridge (1954), Diana Ross (1972), Cicely Tyson (1972), Diahann Carroll (1974), Whoopi Golberg (1985) e Angela Bassett (1993) estiveram no páreo. Sem vitórias.
Em 94 anos da história dos prêmios da Academia, uma única atriz preta venceu, enquanto 93 brancas foram premiadas. Na categoria, coadjuvantes, oito pretas e 85 brancas (a categoria foi criada 1936, ou seja, na 9ª cerimônia).

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