Filme ‘Cabaret’ completa 50 anos

“De que adianta ficar sentado sozinho no quarto, venha ouvir a música”
“Abandone o trabalho, o livro e a vassoura, é hora de diversão”
“De que adianta ouvir profetas do fim do mundo, que apagam os sorrisos?”

Vencedor de oito Oscars, Cabaret completará 50 anos de sua estreia no domingo, 13 de fevereiro de 2022.
Com genial direção Bob Fosse, o filme foi baseado no musical da Broadway assinado por John Kander e Fred Ebb (música) e Joe Masteroff (texto) – que era uma versão na peça dramática ‘I Am a Camera’, de John Van Druten, de 1951, baseada no livro semiautobiográfico ‘Sally Bowles’ do britânico Christopher Isherwood escrito em 1937.
A maioria dos números originais dos palcos foi usado no filme, incluindo três novas canções de Kander e Ebb, incluindo duas originais ‘Mein Herr’ e ‘Money, Money’. Porém, os números ganharam coreografia original criada por Fosse.
Na forma tradicional de teatro musical, cada personagem significativo canta para expressar sua própria emoção e para avançar o enredo. Na versão cinematográfica, os números musicais são inteiramente diegéticos (estão ligados à trama, mas não substituem diálogos), normalmente cantados no próprio Kit Kat Klub, com uma exceção (“Tomorrow Belongs to Me”).

A Trama

Liza Minnelli em Cabaret (1972) @ Reprodução

A trama se passa na ascensão do nazismo na Alemanha de 1931. Com uma sexualidade livre e plena, a Sally Bowles (Liza Minnelli) é uma cantora e dançarina estadunidense que trabalha no Kit Kat Klub, em Berlim. Sua trama é contada pela ótica irônica, mordaz e debochada pelo Mestre de Cerimônias (Joel Grey). Sally se envolve num triângulo sexual entre um tímido professor inglês, Brian Roberts (Michael York) e um nobre alemão, Maximilian von Heune (Helmut Griem).

Sem estar preocupada com amor ou qualquer coisa do gênero, sua única ambição é receber um convite da UFA (grande estúdio de cinema alemão, espécie de Hollywood da época).

Bastidores

Elenco de Cabaret (1972) @ Reprodução

Liza Minnelli foi o primeiro nome para o papel de Sally Bowles, assim como Joel Grey para o Mestre de Cerimônia. Joel já tinha ganho um Tony pela atuação na Broadway pelo mesmo papel em 1967. Para se preparar para o papel, Liza consultou seu pai, o cineasta Vincente Minnelli.

“Eu fui até meu pai e perguntei ‘O que você pode me contar sobre o glamour de 1930? Devo me inspirar em Marlene Dietrich ou em quem? E ele disse: ‘Não, pesquise tudo o que puder sobre Louise Brooks”.

Louise Brooks

Louise Brooks foi uma mulher muito à frente de seu tempo. Dona de uma beleza incomum, foi dotada de uma personalidade forte. Numa época na qual a maioria dos atores e atrizes tornavam-se submissos, mal pagos e frequentemente maltratados pelos estúdios, Louise não aceitava as normas vigentes e incomodou os poderosos de Hollywood.
Da maquiagem ao cabelo, nasceu uma versão muito particular de Sally Bowles feita por Liza. Ela brilha em todos os momentos. Resultado: ganhou o Oscar, o Globo de Ouro, o BAFTA e o David di Donatello (Oscar italiano) e eternizou sua imagem na história de Hollywood. Pena que jamais conseguiu outro papel de tamanha magnitude.
Além de Liza, Cabaret ganhou o Oscar de Direção (Bob Fosse), Ator Coadjuvante (Joel Grey), Fotografia, Desenho de Produção, Som, Montagem e Trilha Sonora. Perdeu o prêmio de Melhor Filme para ‘O Poderoso Chefão’. Até o momento, é a única obra mais premiada com Oscar que não ganhou na categoria principal.

“Cabaret” 1972 Liza Minnelli, @ Walt Disney Television via Getty Images Photo Archives/Walt Disney Television via Getty Images

Cabaret abordou polêmicas questões da época, como a sexualidade plena e livre da protagonista, a bissexualidade, a corrupção, o aborto e o Nazismo de uma forma muito irônica. Sobre este último, alguns críticos apontaram que a canção ‘Tomorrow Belongs to Me’, que retirada do contexto do filme, poderia ser interpretada como uma apologia ao regime alemão. Porém, os autores – Kander e Ebb – que eram judeus, negam esta acusação.

Dançarinos de Cabaret (1972) @ Reprodução

De qualquer forma, de acordo com um artigo publicado no jornal ‘Variety’, em novembro de 1976, o filme foi censurado na antiga Berlim Oriental quando estreou nas telas de cinema e a sequência com a canção foi apagada. Porém, anos depois, foi restaurada quando exibida na TV alemã.
Cabaret foi listado pela revista Empire como o 367º dos 500 melhores filmes de todos os tempos. Em 1995 foi o 10º musical com atores (live action) catalogado na Biblioteca do Congresso dos EUA por seu ‘significado cultural, histórico e estético.