Era sábado, 10 de janeiro de 1988. Tina Turner faria sua primeira (das duas únicas) apresentações no Brasil, trazendo o show “Break Every Rule World Tour” para o Estádio do Pacaembu, em São Paulo. A turnê havia começado em março do ano anterior na Alemanha. Passou por todos os continentes. Ninguém sonhava que o Brasil estava no roteiro.
Eu me lembro do quanto me empolguei quando soube que viria para se apresentar em São Paulo e no Rio de Janeiro (que entrou para o Livro dos Records como o concerto de uma artista feminina com mais público da história… 180 mil espectadores). E… Até aquele momento, Jorge Marcelo Oliveira sofria por ter ingresso, não conhecer ninguém que iria e muito menos não saber o que fazer. Quem me conhece hoje pode estranhar, mas fui um mocinho tímido, solitário e sofria com uma mãe muito opressora.
Naquela manhã de sábado, resolvi ir ao apartamento da minha amiga Elaine no edifício ‘Joga Chave’ na Rua Conceição, centro de Campinas. Ela sabia da minha tristeza. Seu namorado Guilherme comprou a Folha de S. Paulo e o show era capa do caderno Ilustrada. Ele passou o jornal para mim. Devorei e o trecho ‘ainda existem ingressos disponíveis’ despertou minha atenção. Fechei o jornal e falei:
“Eu vou ao show”.
Ambos ficaram surpresos. Despedi-me da dupla e fui para minha casa. Ao chegar informo minha mãe da minha decisão. Lógico que ela colocou todas as negativas, como
“Como assim?”
“Você vai sozinho?”
“Vai de ônibus?”
“Não tem nenhum amigo que vá com você?”
“Por que não liga ‘não sei para quem’ para ir com você?”
“São Paulo é muito perigoso!”
“E você nunca foi para o estádio?”
Não me surpreendi com sua reação. Eu sabia que não me apoiaria. Porém, sem dar atenção a qualquer uma de suas indagações, fui tomar banho, escolhi uma roupa, botei mochila nas costas. Falei algo assim:
“Não se preocupe! Vou sozinho! E vou ver o show! Um beijo e tchau!”
Acredito ter sido uma das primeiras vezes nos meus doces e confusos 20 anos que tinha certeza do que faria. Peguei ônibus até rodoviária. Comprei passagens e entrei no ‘Cometão’.

Na rodoviária de São Paulo fui ao balcão de informações. Perguntei como faria para chegar ao estádio. Pessoa explica que teria que pegar o metrô até Avenida Paulista e um ônibus. Perguntei se conseguiria ir sem pegar ônibus. Pessoa disse que sim, mas teria que andar muito.
Em plena Avenida Paulista, a chuva caia sem dó. Perguntei para um jornaleiro como fazia para ir para o estádio. Ele disse que era melhor pegar um ônibus. Disse que queria ir à pé. Ele explicou o caminho e fui.
Acabei de verificar no Google Maps: 35 minutos. Porém, devo ter demorado um pouco mais, pois realmente não sabia nada do caminho. Segui firme e forte.
Cheguei. Procurei bilheteria. Na fila, um rapaz me abordou. Explica que uma amiga desistiu e que me venderia o ingresso para o gramado pelo preço original. Fiquei desconfiado da honestidade do mocinho, mas comprei.
Sim, era original. Depois de uma longa fila, entrei. Foi a primeira vez que pisava num estádio de futebol. O tamanho do lugar era impressionante. Caminhei o mais próximo possível da grade. Já estava lotado e só consegui ficar bem longe. A chuva diminuiu, mas continuou.
Fiquei de pé por horas. Consegui sair para ir fazer um xixi e tentei voltar para o mesmo lugar. Impossível. Fiquei mais longe. A chuva parou. Nem uma gota. A noite surgiu, assim como as luzes do estádio. O cheiro da maconha era gritante.

De repente, as luzes se apagaram. O povo começou a gritar e meu corpo foi jogado para frente.
Com os primeiro acordes, eu já estava bem para frente. Quando Tina Turner entrou no palco, novamente fui empurrado. Eu estava numa distância possível de vê-la em detalhes.
Foi uma emoção indescritível. Sua potência vocal… Seu timbre… Seu ritmo… Sua personalidade magnética… Seu carisma… Seu carinho com o público… Suas perucas… Suas pernas… Poderia repetir os pronomes possessivos 200 vezes que seria pouco para explicar o impacto daquilo num jovem de 20 anos morador de uma cidade do interior paulista do estado de São Paulo.
Foram quase duas horas de frenéticas emoções que demorei anos para esquecer. Na realidade, sendo muito preciso… Acredito que o show de Madonna em São Paulo em outubro de 1993 também me causou grande impacto. Porém, foram sentimentos diferentes. São artistas completamente diferentes. Madonna é uma artista performática, seus shows são espetáculos teatrais, com muitos elementos cênicos, enorme quantidade de dançarinos… Coreografias… Adorava também… Mas… Tina Turner era outra coisa! Era uma cantora. Na definição mais exata da palavra.
Tina morreu nesta quarta-feira, 24 de maio. Estava com 83 anos. Lutava há anos contra um câncer no intestino. Pouca gente sabia que estava doente. Ela foi muito discreta sobre isso.
Suas últimas imagens mostravam que estava estranha. Ela sempre foi magra, porém, ela estava inchada. Não sabia o que ela tinha, mas tinha certeza que não era algo bom.
Enfim… Morreu um ícone. Ninguém irá substitui-la. Não haverá uma ‘nova Tina Turner’. Talvez Beyoncé seja o que temos de mais próximo. Porém, ela não é Anna Mae Bullock!

Tive a sorte de fazer parte da gravação do show em São Paulo. sou carioca trabalhava na take vídeo filme , fomos contratado para realizar a filmagem do show. Chegamos em São Paulo acho que três ou quatro dias antes, ficamos no hotel para cobri o show. Tina e sua comitiva estava hospedada de não !e engano no monfarej . Tivemos lá , nossas credenciais era da Pepsi .tina era esclusiva da Pepsi por isso tínhamos livre acesso. . No show onde tinha torres de gravação dentro do gramado do estádio. Onde ficava câmeras e ilha de edição. Saudades da minha rainha! Hoje ainda consegui encontrar minha credencial que já está velha mais ainda dá para ver ela de perfil segurando um casaco. Brasil tour 88 Tina Turner Live. Me chamo Julio Cesar. Era na época Aux. de Câmera.
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🙃
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Eu também fui, só não lembro se no sábado ou domingo no Pacaembu! Fui com minha irmã, lembro do leque de cartolina que todo mundo ganhava! Kkk Só agora me dei conta que ela só veio pro Brasil uma única vez!
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