O novo filme de Jan Komasa, Anniversary – Mudança Radical, chega aos cinemas como um dos thrillers mais provocativos do ano, explorando os limites entre drama familiar e comentário político. A obra não se contenta em narrar uma história íntima: ela expõe, com contundência, como ideologias radicais podem infiltrar-se no espaço doméstico e corroer os laços mais fundamentais.
A trama acompanha Ellen (Diane Lane) e Paul Taylor (Kyle Chandler), que vivem uma vida aparentemente próspera com seus filhos, Josh (Dylan O’Brien), Anna (Madeline Brewer), Cynthia (Zoey Deutch) e Birdie (Mckenna Grace). Durante o 25º aniversário de casamento, o filho mais novo, Josh, apresenta sua namorada Liz (Phoebe Dynevor), que foi aluna de Ellen.

A mulher fica claramente incomodada, pois a garota defendia ideais questionáveis sobre o sistema, a ponto de ser expulsa da universidade. Na hora de ir embora, Liz deixa um presente: um livro-manifesto chamado “The Change: The New Social Contract”, que defende uma ideologia radical, incluindo um pais sem partidos políticos.
Ao se integrar na família, Liz começa a desestabilizar as relações internas, expondo fragilidades e tensões ocultas.
Tudo piora quando, quando dois anos depois, o livro se torna um sucesso, fazendo que o movimento “A Mudança” se espalhe pelo país, criando um clima de incerteza e ameaça constante.
Distopia
Indicado ao Oscar de filme internacional por “Corpus Christie”, o diretor polonês Jan Komasa, estreia no cinema dos EUA com um projeto ambicioso. Anniversary é descrito como uma mistura entre “Os Contos da Aia/Handmaid’s Tale” e um drama familiar claustrofóbico.
O diretor aposta em uma narrativa que evita detalhes explícitos sobre o movimento “A Mudança”, sugerindo mais do que mostra, deixando o espectador inquieto diante da possibilidade de que tais ideologias possam emergir em qualquer sociedade contemporânea.
Críticos apontam que o filme é “menos sutil e mais aterrorizante” do que outros dramas políticos recentes. A narrativa mostra como o radicalismo pode parecer sedutor em sua promessa de ordem e justiça, mas rapidamente se revela destrutivo.

O filme é descrito como “politicamente apolítico” – ao mesmo tempo em que denuncia o fascismo, não oferece respostas fáceis, deixando o público em estado de reflexão.
Em tempos de polarização, Anniversary funciona como alerta sobre como discursos extremistas podem infiltrar-se em ambientes privados e transformar relações pessoais em arenas de disputa ideológica.
Anniversary – Mudança Radical não é apenas entretenimento: é um espelho perturbador da fragilidade das democracias e da permeabilidade das famílias às ideologias extremas. Ao evitar respostas fáceis, Komasa entrega um filme que incomoda, provoca e exige debate.
Polêmica

Segundo o IMDb, houve alguma controvérsia no lançamento do filme. A equipe do longa, incluindo representantes de Jan Komasa e o produtor, acusou a Lionsgate de suprimir o lançamento e a divulgação da obra. Eles alegaram que o filme tratava de um tema “incendiário” e que o estúdio tinha receio de como seria recebido emocionalmente em um clima político polarizado (apesar de o próprio filme não retratar lados políticos nem mencionar partidos específicos).
Críticos confirmaram isso, uma vez que, com um lançamento limitado em 809 salas e a ausência de divulgação nos grandes veículos de imprensa. Houve também pouquíssima promoção, o que é incomum para uma produção com um elenco tão estrelado. Muitos dos talentos diante das câmeras também se “distanciaram” do projeto, com a estreia “atenuada” sendo prestigiada apenas por alguns dos atores principais.
Apesar das críticas em grande parte positivas e dos excelentes elogios ao elenco principal (notadamente Diane Lane e Dylan O’Brien), o desempenho de bilheteria do filme sofreu como consequência da falta de marketing.
