Uma das maiores cantoras da história da música brasileira – e mundial, Gal Costa morreu aos 77 anos na manhã desta quarta-feira, 09 de novembro. A informação foi confirmada pela assessoria da cantora. Ela havia dado uma pausa em shows, após passar por uma cirurgia para retirar um nódulo na fossa nasal direita.
Dona de uma voz de Soprano, Gal foi eleita como a sétima maior voz da música brasileira pela revista Rolling Stone Brasil, em 2012. Nasceu Maria da Graça Costa Penna Burgos em 26 de setembro de 1945 em Salvador, na Bahia.

Ela estava em turnê com o show “As várias pontas de uma estrela”, no qual revisita grandes sucessos, como “Açaí”, “Nada mais”, “Sorte” e “Lua de mel”.
Bem recebido pelo público e pela crítica, esse show fez com que a agenda de Gal ficasse agitada após a pandemia. A estreia aconteceu em São Paulo, em outubro do ano passado. Iria fazer show em fevereiro em Campinas, mas foi cancelado.
Além de rodar o Brasil, Gal entrou na programação de vários festivais e ainda tinha uma turnê na Europa prevista para novembro, mas que também foi cancelada por conta da cirurgia. Seu último show aconteceu no Coala Festival em setembro passado, em São Paulo.
Carreira
Gal estreou ao lado de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Tom Zé e outros, no espetáculo “Nós, Por Exemplo…” (22 de agosto de 1964), que inaugurou o Teatro Vila Velha, em Salvador. No mesmo ano participou de “Nova Bossa Velha, Velha Bossa Nova”, no mesmo local e com os mesmos parceiros.
Deixou Salvador para viver na casa da prima Nívea, no Rio de Janeiro, seguindo os passos de Maria Bethânia, que havia estourado como cantora no espetáculo “Opinião”. Sua primeira gravação foi no álbum “Maria Bethânia” (1965) com a canção “Sol Negro” (Caetano Veloso), seguido do primeiro compacto, com as canções “Eu vim da Bahia”, de Gilberto Gil, e “Sim, foi você”, de Caetano Veloso.

Ao lado de Caetano Veloso, lançou o primeiro álbum “Domingo”, em 1967, pela gravadora Philips. A canção “Coração Vagabundo” fez grande sucesso. Participou também do III Festival de Música Popular Brasileira defendendo “Bom Dia” (Gilberto Gil/Nana Caymmi) e “Dadá Maria” (Renato Teixeira), esta última em dueto com Sílvio César no festival e com Renato Teixeira na gravação.
Em 1968 participou do disco “Tropicália ou Panis et Circencis” (1968), com “Mamãe Coragem” (Caetano Veloso e Torquato Neto), “Parque Industrial” (Tom Zé) e “Baby” (Caetano Veloso), que se tornou sua marca registrada.
Em novembro participou do IV Festival da Record defendendo a canção “Divino maravilhoso” (Caetano Veloso e Gilberto Gil). No ano seguinte, lançou “Gal Costa”, com os hits “Que pena (Ele já não gosta mais de mim)” (Jorge Benjor) e “Não identificado” (Caetano Veloso). No mesmo ano gravou “Gal”, conhecido como o psicodélico, que traz os hits “Meu nome é Gal” (Roberto e Erasmo Carlos) e “Cinema Olympia” (Caetano Veloso).
A década de 1970 se tornou seu melhor momento, no qual sua voz era límpida e cristalina. O álbum “Legal”, cuja capa foi produzida por Hélio Oiticicam, contava com as canções, “London London” (Caetano Veloso) e “Falsa baiana” (Geraldo Pereira).

Em 1971 gravou “Sua estupidez” (Roberto e Erasmo Carlos) e “Você não entende nada” (Caetano Veloso). Nesse mesmo ano realizou um dos shows mais importantes da música brasileira, “Fa-Tal”, dirigido por Waly Salomão e que gravado ao vivo gerou icônico disco “Fa-Tal / Gal a Todo Vapor”, com os sucessos “Vapor barato” (Jards Macalé – Waly Salomão), “Como 2 e 2” (Caetano Veloso) e “Pérola negra” (Luiz Melodia).
Em 1973 gravou o disco “Índia”, dirigido por Gil, com os sucessos “Índia” (J. A. Flores – M. O. Guerreiro – versão José Fortuna) e “Volta” (Lupicínio Rodrigues). A capa foi uma ousadia até então impensada no Brasil.

Nesse mesmo ano participou do festival Phono 73, que gerou três discos, nos quais Gal gravou com sucesso as músicas “Trem das onze” (Adoniran Barbosa) e “Oração de Mãe Menininha” (Dorival Caymmi), em dueto com Maria Bethânia.
Em 1974 Gal gravou “Cantar”, dirigido por Caetano Veloso, com os sucessos “Barato total” (Gilberto Gil), “Flor de maracujá” e “Até quem sabe” (ambas de João Donato e Lysia Enio) e “A rã” (João Donato e Caetano Veloso).

Em 1975 Gal fez imenso sucesso ao gravar “Modinha para Gabriela” (Dorival Caymmi) para a abertura da telenovela da Rede Globo “Gabriela”. Outro sucesso do ano foi “Teco teco” (Pereira da Costa – Milton Vilela), lançado em compacto.
O álbum “Gal Canta Caymmi”, lançado em 1976, trazia os hits “Só louco”, “Vatapá”, “São Salvador” e “Dois de fevereiro”, todas de Dorival Caymmi.
Nesse mesmo ano, ao lado dos colegas Gilberto Gil, Caetano e Maria Bethânia, participou do show “Doces Bárbaros”, nome do grupo batizado e idealizado por Bethânia, espetáculo que rodou o Brasil e gerou o disco e o filme “Doces Bárbaros”.
Ele se tornou um dos mais importantes grupos da contracultura dos anos 70 e, ao longo dos anos, foi tema de filme, DVD, enredo da escola de samba GRES Estação Primeira de Mangueira em 1994 com o enredo “Atrás da verde-e-rosa só não vai quem já morreu”.
Inicialmente o disco seria gravado em estúdio, mas por sugestão de Gal e Bethânia, foi o espetáculo que ficou registrado em disco, sendo quatro daquelas canções gravadas pouco tempo antes no compacto duplo de estúdio, com as canções “Esotérico”, “Chuckberry fields forever”, “São João Xangô Menino” e “O seu amor”, todas gravações raras.
Em 1977 Gal lançou “Caras & Bocas”, com os sucessos “Tigresa” e “Negro Amor”, além da música homônima. No auge da novela “Dancin’Days“, em 1978, Gal faz uma participação especial numa cena clássica entre as atrizes Sonia Braga e Joana Von.
No mesmo ano, lançou “Água Viva”, com os sucessos “Folhetim” (Chico Buarque), “Olhos verdes” (Vicente Paiva) e “Paula e Bebeto” (Milton Nascimento – Caetano Veloso). Desse disco surgiu o espetáculo “Gal Tropical”, no qual Gal deu uma virada em sua carreira, mudando drasticamente de imagem, passando de musa hippie para uma cantora mais mainstream.
O show “Gal Tropical” foi um imenso sucesso de público e crítica, e gerou o disco “Gal Tropical”, no qual cantou alguns dos maiores sucessos de sua carreira, como “Balancê” (João de Barro – Alberto Ribeiro), “Força estranha” (Caetano Veloso), “Noites cariocas” (Jacob do Bandolim – Hermínio Bello de Carvalho), além das regravações dos grandes sucessos “Índia” e “Meu nome é Gal”.
Nas décadas seguintes, dividiu a crítica – e público – ao gravar canções de forte apelo popular, como “Chuva de Prata”, “Nada Mais” e “Um Dia de Domingo” (em dueto com Tim Maia). Porém, fechou década com a incrível regravação de “Brasil”, canção de Cazuza, que se tornou o tema de abertura da novela da Rede Globo “Vale Tudo”.
Em 1990 gravou “Plural”, com os sucessos “Alguém Me Disse” e “Cabelo”, de Jorge Benjor e Arnaldo Antunes. Em 1996, o cineasta Walter Salles utilizou a canção ‘Vapor Barato’ na trilha sonora do filme ‘Terra Estrangeira’. Ela também foi usada como tema da minissérie O Canto da Sereia, de 2013 e do seriado Os Experientes, de 2015, ambos exibidos pela Rede Globo.
Em 1997, gravou o “Acústico MTV”, com os maiores hits de sua carreira. Entre os grandes momentos, a participação de Zeca Baleiro numa versão de “Vapor Barato”, que a apresentou às novas gerações.
Em 2001, gravou “Gal de Tantos Amores”, com a canção “Caminhos do mar” (Dorival Caymmi, Danilo Caymmi e Dudu Falcão). Nesse mesmo ano, foi incluída no Hall of Fame do Carnegie Hall (única cantora brasileira a participar do Hall), após participar do show “40 anos de Bossa Nova”, em homenagem a Tom Jobim, ao lado de César Camargo Mariano e outros artistas.
Em 2002, lançou “Bossa Tropical”, com a canção “Socorro” (Alice Ruiz e Arnaldo Antunes), sucesso originalmente gravado pela cantora Cássia Eller. Em 2003 lançou “Todas as coisas e eu”, contendo clássicos da MPB, como “Nossos momentos” (Haroldo Barbosa – Luis Reis), que fez sucesso.
Em 2005, lançou “Hoje”, produzido por César Camargo Mariano, onde Gal reuniu várias canções novas de compositores pouco conhecidos do grande público, tendo se destacado “Mar e sol” (Carlos Rennó e Lokua Kanza).
Em 2006 participou de uma temporada na casa de shows Blue Note, em Nova York, com “Gal Costa Live At The Blue Note”, lançado originalmente nos Estados Unidos e Japão e somente em 2007 no Brasil. Ainda em 2006 lançou o CD e DVD “Gal Costa Ao Vivo”, gravados durante a temporada do show “Hoje”.
Depois de uma ausência de três anos, aceitou o convite da cantora estadunidense Dionne Warwick para um dueto em “Aquarela do Brasil” num show de 2009, que passou pelo Rio de Janeiro, Curitiba, São Paulo e Porto Alegre.
Vida pessoal
A cantora era muito discreta quanto a sua vida pessoal. Manteve relacionamentos estáveis, mas nunca foi oficialmente casada. De 1991 a 1992 viveu junto com o empresário Marco Pereira. Gal Costa era assumidamente bissexual, e ao longo dos anos ficaram conhecidos seus relacionamentos afetivos com mulheres anônimas e famosas, dentre elas a cantora Marina Lima e a atriz Lúcia Veríssimo.
Em 2007, conseguiu adotar um menino de dois anos de idade, que sofria de raquitismo devido às condições de miserabilidade extrema na qual vivia em uma favela carioca antes de ir para o abrigo. Ela o batizou como Gabriel.

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