TV Globo está preparando o remake da novela “Vale Tudo”, grande sucesso de 1988-1989. Ou seja, uma obra que completará 37 anos.
Taís Araújo, Bella Campos, Deborah Bloch, Paolla Oliveira, Alexandre Nero, Carolina Dickman serão as novas Raquel Acioli, Maria de Fátima, Odete Roitman, Helena Roitman, Marco Aurélio e Leila. A previsão de estreia é março de 2025, ano que irá celebrar os 60 anos da emissora carioca.
A responsável pela atualização da trama criada por Gilberto Braga é Manuela Dias, autora de “Amor de Mãe” e das minisséries “Justiça I e II” e “Ligações Perigosas”.
É um desafio atualizar a trama um clássico da TV brasileira quase quatro décadas depois que a novela imobilizou o país com uma estória muito bem escrita, interpretada e cheia de personagens icônicos que se tornaram clássicos da cultura pop do país. Com as redes sociais, cenas e falas das personagens se tornaram memes. Tem muita gente que conhece os personagens e nunca assistiu a obra original.

Com o anúncio do retrofit, a onda de reclamações “o excesso de remakes” virou pauta. Que, na realidade, não é apenas sobre a repetição da ideia da novela, este assunto se estende também aos filmes, ao cinema, a Hollywood, etc.
Há dois anos, a TV Globo lançou “Pantanal”, uma trama originalmente escrita por Benedito Ruy Barbosa exibida na TV Manchete em 1990. A atualização feita por seu neto, Bruno Lupere, se tornou um grande sucesso.
A trama seguinte foi confusa “Travessia”, de Glórias Peres, foi um fracasso. As coisas melhoraram com “Terra & Paixão”, que manteve um bom índice de audiência, mesmo com uma trama óbvia e repetitiva. No calor do sucesso do horário, chegou o remake “Renascer”, original de 1993, também do autor de “Pantanal” e também reescrita por seu neto. Mesmo não sendo um fracasso, recebeu muitas críticas pela repetição da fórmula da trama anterior.
Quando o nome “Vale Tudo” começou a circular, uma legião de nostálgicos se colocou contrária com ideia de “mexer num clássico”. Veja bem: o mundo passou por tantas transformações sociais que, lógico que a trama precisará ser atualizada. O mesmo irá acontecer na elaboração de cada personagem, assim como o tipo de interpretação dos atores será outra. São quase quatro décadas que separam a sociedade brasileira de 1988 da atual. Porém, a ignorância é uma coisa assustadora…

Pensando nisso, seguem alguns exemplos para explicar o quanto esta discussão é RIDÍCULA:
- O dramaturgo William Shakespeare escreveu 39 peças. A primeira foi “A Tempestade”, de 1610-11. Entre suas obras mais famosas estão “Romeu e Julieta”, “Macbeth”, “Rei Lear”, “Othello”, “Hamlet”, “Ricardo III”, “Um Sonho de Uma Noite de Verão”, “O Mercado de Veneza”, “A Megera Domada”, “O Leão do Inverno”, etc. Impossível alguém numerar quantas remontagens foram feitas para os palcos, assim como quantas obras foram adaptadas paras as telas;
- Além de Shakespeare, inúmeros outros autores ganharam (e ganham) adaptações para o teatro; seja aqui ou lá fora;
- O Tony Awards – prêmio da indústria do teatro estadunidense – criou a categoria “Best Revival” em 1994 como uma forma de celebrar as melhores remontagens;
- Hollywood faz remake de seus filmes desde seu nascimento há mais de 100 anos. É uma longa história de reciclagem de conteúdos variados. “Caça-Fantasmas”, “Superman”, “Batman”, “Homem Aranha”, “It”, “Tubarão”, “Cleópatra” e “Nasce uma Estrela” são alguns exemplos.
- Hollywood ama continuações (alguns se tornaram franquias), como “Star Wards”, “James Bond (25 filmes)”, “Indiana Jones”, “O Poderoso Chefão “Velozes e Furiosos (11 filmes)”, “Toy Story”, “Meu Malvado Preferido”, “O Exorcista”, “A Hora do Pesadelo”, “Velozes e Furiosos”, “X-Men”, “Missão Impossível”, “Rocky”, “Rambo”, “Exterminador do Futuro”, “Duro de Matar”, “Harry Potter”, “O Senhor dos Anéis”, “A Hora do Pesadelo”, “Jumanji”, etc;
- Hollywood faz remakes de séries de TV (aberta, fechada, streaming), como “Sex And The City”, “Charmed”, “Barrados no Baile”, “Dallas”, “Dinastia”, “Twin Peaks”, “Lois e Clark”, “Queer As Folk”, “Le Revenants”, “The Office”, “Being Human”, etc;
- “RuPaul’s Drag Race” teve 17 temporadas e inúmeras franquias, incluindo até uma versão brasileira;
- “Big Brother Brasil” teve 25 edições;
- “A Fazenda” teve 15 edições;
- E… Finalmente: a celebrada novela “A Viagem” de 1994 era remake da original exibida em 1975 da TV Tupi. Foi reprisada cinco vezes (duas no Vale a Pena Ver de Novo da Globo e três no Canal Viva).
Por uma questão de espaço (e paciência), deixarei de lado o que acontece na literatura, dança, música, artes plásticas e visuais, arquitetura, moda, decoração, jornalismo, gastronomia, mercado da beleza, joias, publicidade ou outras áreas da criação.
Orkut, Facebook, Instagram, You Tube, Snapchat, WhatsApp, Twitter e TikTok são canais de comunicação com diferentes formas de atuação. Contudo, todas são redes sociais.
Vou desenhar: tudo já foi criado! Não existe nada original! Tudo se copia e é copiado!

O que temos são (re) interpretações de tudo o que já foi criado. É ignorância acreditar que irá surgir uma novela, filme, série, peça teatral, dança, livro, programa de auditório, campanha publicitária, etc que irá revolucionar o mundo com sua originalidade. Impossível que isso possa acontecer.
Uma personagem como a Odete Roitman não será a mesma de 1988. Não cabe mais na sociedade atual aquelas frases horrorosas ditas por ela. É uma personagem datada! Antiga! E até sem sentido para 2025!

Sendo assim… Pare de encher as redes sociais com lamentos sobre o remake desta ou daquela novela, filme, etc! Você só está passando atestado de bronco! Vá estudar história! Vá estudar cinema! Vá estudar história da arte! Vá estudar dramaturgia!
E finalizando: se não quiser assistir o remake de “Vale Tudo”, o novo filme do “Batman”, etc…
Não veja a novela! Não veja o filme! E está tudo certo com isso!
Enfim… Pare de ser chato!

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