Com o caminho aberto para cantoras pretas, entre o final de 1950 e início de 1960, surgiram os bem sucedidos The Shirelles, The Crystals, The Ronettes e Martha and The Vandellas. O The Shangri-las foi a única exceção que fez sucesso, sendo mulheres brancas.

The Shirelles

Formado por Shirley Owens, Doris, Coley, Addie “Micki” Harris e Beverly Lee, o “The Shireless” surgiu em 1957. O primeiro single foi “I Met Him on a Sunday”, mas o sucesso chegou com “Dedicated to the One I Love”, que chegou a 3ª posição na Billboard Hot 100 e 2ª na Hot R&B Sides. “Tonight’s the Night”, que relatava os sentimentos de uma mulher após a noite que perdeu a virgindade, foi outro sucesso. Em 2010, a Rolling Stone a listou como uma das 500 Maiores Canções de Todos os Tempos.
Outros sucessos foram “Will You Love Me Tomorrow”, “Mama Said”, “Baby It’s You”, “Soldier Boy” e “Boys”. Durante um breve período, Dionne Warwick substituiu Shirley e Doris, que saíram do grupo para se casar com seus respectivos noivos.

“Foolish Little Girl” alcançou o Top 10 pop/R&B e as canções “31 Flavors” e “You Satisfy My Soul” entraram para a trilha sonora do filme “Deu a Louca no Mundo”, de 1963.
Apesar dos temas de conotação sexual presentes em muitas das canções, as Shirelles. Frequentemente o grupo é creditado como o responsável por lançar o gênero girl group, com grande parte de seu repertório refletindo a essência desse estilo.
Sua aceitação tanto pelo público branco quanto pelo público negro — anterior até à dos artistas da Motown — é considerada um reflexo do sucesso inicial do Movimento dos Direitos Civis nos Estados Unidos.
Elas receberam diversas honrarias, incluindo o Pioneer Award da Rhythm and Blues Foundation, além de terem sido introduzidas no Rock and Roll Hall of Fame em 1996 e nomeadas pela Rolling Stone como um dos 100 Maiores Artistas de Todos os Tempos em 2004.

Duas de suas músicas, “Will You Love Me Tomorrow” e “Tonight’s the Night”, foram selecionadas pela Rolling Stone em sua lista das maiores canções de todos os tempos. Em 2022, o álbum de estreia Tonight’s the Night foi escolhido pela Biblioteca do Congresso para preservação no National Recording Registry, por ser considerado “cultural, histórica ou esteticamente significativo”.
A estória do grupo ganhou uma versão nos palcos com o musical “Baby It’s You!”, que contou com 148 apresentações na Broadway em 2011.

The Crystals

Formado por Patricia Wright, Dolores Kenneibrew, Dolores Brooks e Barbara Alston, o The Crystals fez muito sucesso entre 1960 e 1967, com sucessos como “There’s No Other (Like My Baby)”, “He Hit Me (And It Feld Like a Kiss)”, “Uptown”, “He’s Sure the Boy I Love”, “He’s a Rebel”, “Da Doo Ron Ron” e a sensacional “Then He Kissed Me”.
As três últimas figuram nas 500 Maiores Canções de Todos os Tempos, da revista Rolling Stone. Alias, “He’s a Rebel” foi gravada originalmente pela cantora Vikki Carr e também pelo grupo The Blossoms.
“Then He Kissed Me” esteve na trilha sonoras dos filmes “Os Bons Companheiros (1990)”, “Uma Noite de Aventuras (1987)” e “Para Todos os Garotos: P.S. Ainda Amo Você (2020)”.

“He Hit Me (And It Felt Like a Kiss”) foi motivo de controvérsias. Composta por Carole King e Gerry Goffin, em 1962, surgiu depois de ouvirem o relato da cantora (e babá) “Little Eva” Boyd, que frequentemente era agredida pelo namorado. Quando questionada porque tolerava tal tratamento, ela justificava que, as ações do mesmo eram motivadas por seu amor. Anos depois, numa entrevista, Carole, lamentou ter escrito a canção. Segundo contou, a própria também era sobrevivente de repetidos abusos domésticos de um ex-marido.

A canção caiu nas graças da cultura pop. Amy Winehouse contava a era uma das suas preferidas de todos os tempos. Também inspirou The Cardigans, Lana Del Rey e Hozier. Foi usada em diversas séries, como Mad Men” e “Sex Education”.

The Ronettes

Veronica Bennett (também conhecida como Ronnie Spector), a irmã mais velha, Estelle e a prima Nedra Talley formaram o trio “The Ronettes, em 1959, porém, o primeiro sucesso aconteceu com a canção “Be My Baby”, lançada em 1963.

Alcançou o 2º lugar nas paradas dos EUA e Canadá e 4º no Reino Unido e influenciou diversos artistas, entre eles The Beatles, The Beach Boys, Queen e Lana Del Rey. Segundo Barbara Cane, vice presidente da agência BMI, a canção foi tocada mais de 3.9 milhões de vezes nas rádios e televisão desde seu lançamento.
Tocou na abertura do filme “Dirty Dancing”, de 1987. Também esteve na trilha do filme “Caminhos Perigosos (1973)”, na série dos anos de 1990, “A Gata e o Rato” e no segundo episódio da série da Disney “Ms. Marvel”, em 2023.
A canção também entrou no Grammy Hall of Fame, em 1999, está na posição 22 das 500 Maiores Canções de Todos os Tempos da Rolling Stone, em 2004 e a 19º lugar nas 500 Melhores Canções Pop de Todos os Tempos da Billboard.

Martha and the Vandellas

Martha Reeves, Annette Beard, Gloria Williamson e Rosalind Ashford se juntaram para criar o The Del-Phis, em 1957. Mudaram o nome para The Vels, mas o máximo que aconteceu foi fazerem backing vocals do cantor Marvin Gaye, que estreava em carreira solo.
Em 1963, mudaram o nome para Martha and The Vandellas e lançaram “Come and Get These Memories”, que atingiu a posição 29 da Billboard Hot 100 e 6ª na Hot R&B Sellers. Em seguida, surgiu o mega hit “Heat Wave”, que chegou no 4º lugar no Top Dez e o número Um da Hot R&B por cinco semanas. Ganharam indicação ao Grammy Awards de Melhor Performance R&B – a única da carreira.

O sucesso seguinte foi “Quicksand”, que entrou no número 8 da Billboard Hot 100 uma semana após o assassinato do Presidente John F. Kennedy. Lançaram “Live Wire” e “In My Lonely Room”, porém, fracassaram.
No verão de 1964, o grupo lançou “Dancing in the Streets”, escrita justamente por Marvin Gaye, Mickey Stevenson e Ivy Jo Hunter. Alcançou o 2º lugar na Parada Billboard Hot 100 por duas semanas. No Reino Unido, ficou no 4º. Em 1966 ganhou uma versão do The Mamas & The Papas. Em 1982 foi a vez do Van Halen fazer sua versão. O dueto de 1985 de David Bowie ficou no 1º lugar nos EUA e 7º no Reino Unido.

Lançaram outros sucessos, como “Nowhere to Run”, “I’m Ready for Love” e “Jimmy Mack”, que figuram entre as seis produzidas pelo grupo que ficaram no Top Dez da Billboard Hot 100.
Após o sucesso de “Jimmy Mack”, a Motown Records começou a enfrentar um período de estagnação comercial, já que seus antigos compositores e produtores, Mickey Stevenson e o trio Holland-Dozier-Holland, deixaram a gravadora em 1967 alegando problemas relacionados a royalties. Isso deixou muitos dos artistas originais da Motown, incluindo Martha and the Vandellas, em uma situação difícil.

Na realidade, a indústria musical passava por mudanças rápidas, e o som pop característico da Motown estava perdendo espaço junto ao público, especialmente na comunidade negra. Artistas como Aretha Franklin, Otis Redding e o recém-contratado Gladys Knight & the Pips traziam uma sonoridade soul mais intensa, enquanto os Temptations e Marvin Gaye começavam a gravar psychedelic soul, o que obrigou muitos outros grupos da Motown a se adaptar.
Durante esse período, Reeves e Kelly tiveram um desentendimento, e Kelly acabou sendo demitida do grupo, sendo imediatamente substituída pela irmã de Martha, Lois Reeves. Não deu certo.
Elas deixam a Motown e acabam se separando em 1972. Martha Reeves continuou a trabalhar como artista solo, mas nem ela nem nenhuma das outras integrantes conseguiu alcançar o sucesso que tiveram nos dias áureos.

The Shangri-las

O período também contou com o “The Shangri-las”, formado por dois pares de irmãs brancas: Mary e Betty Weiss e as gêmeas Marge e Mary Ann Ganser, em 1963, no Queens (Nova York).
O grupo ficou eternizado por canções Pop que falavam de questões da adolescência. Uma canção, em especial, “Dressed in Black”, soa atual até hoje.

Lançaram hits, como “Remember (Walking in the Sand)”, “Give Him a Great Big Kiss” e, em particular, “Leader of the Pack”, que atingiu o número 1 das paradas dos EUA e figura na lista das 500 Melhores Músicas de Todos os Tempos, da revista Rolling Stones.

Mary Weiss era a principal vocalista, mas Betty assumia os vocais principais em faixas como “Maybe” (versão do LP), “Shout”, “Twist and Shout”, “Wishing Well” e em diversos lados B e faixas de álbuns. Já Mary Ann Ganser assumiu o vocal principal em grande parte de “I’m Blue”, que foi incluída no álbum Shangri-Las-65!, de 1965.
As gravações produzidas do grupo se destacavam pela produção elaborada, com forte orquestração e efeitos sonoros. “Leader of the Pack” (1º lugar nos EUA, 11º no Reino Unido) chega ao clímax com sons de motocicletas roncando e vidros se quebrando. A canção se tornou o exemplo clássico do gênero conhecido como “death disc” — músicas com letras que abordavam suicídios, assassinatos e acidentes fatais, muito populares entre o fim dos anos 1950 e meados dos anos 1960. O compositor Jeff Barry descreveu essas canções como “óperas em áudio, que fazem você usar a imaginação”.
Mesmo quando a febre por elas começava a terminar, o grupo continuou aparecendo nas paradas dos Estados Unidos, focando nos temas adolescentes, como alienação, solidão, abandono e morte prematura. Entre os singles lançados estão “Give Him a Great Big Kiss”, “Out in the Streets”, “Give Us Your Blessings”, o grande sucesso “I Can Never Go Home Anymore” (que entrou no Top 10), “Long Live Our Love” (um raro exemplo de canção dedicada aos homens que na época lutavam no Vietnã), “He Cried” e a faixa falada “Past, Present, and Future”, cuja base musical foi inspirada na “Sonata ao Luar”, de Beethoven.
Entre os lados B mais notáveis estão “Heaven Only Knows”, “The Train from Kansas City”, “Dressed in Black” (incluída na cinebiografia de Amy Winehouse, Back to Black) e “Paradise” (composta por Harry Nilsson, Phil Spector, Perry Botkin Jr. e Gil Garfield).
O grupo é citado como referência para o movimento punk-rock de 1970 por nomes como, New York Dolls, Ramones e Blondie. Aerosmith regravou “Remember (Walkingn in the Sand)” em 1979. Também influenciou a carreira solo de Paul McCartney e as bandas Jesus and The Mary Chain, John Mellencamp, The Beach Boys, Sonic Youth e a cantora Lana Del Rey.
Mais de 750 grupos de garotas surgiram entre 1960 a 1966. Além dos citados, The Velvettes (“Needle in a Haystack”), The Marvelettes (“Please, Mr. Postman”), The Paris Sisters (“I Love You How You Love Me”) e The Cookies (“Chains”).
Com a Invasão Britânica (leia-se The Beatles e The Rolling Stones), a maioria destes grupos vocais sumiram das paradas e encerram, em boa parte, suas carreiras. Um nome, porém, conseguiu se estabelecer: The Supremes, que revelou a Diva Diana Ross.