
A Garota Dinamarquesa conta a estória do casal Einar (Eddie Redmayne) e Gerda Wegener (Alicia Vikander), na Copenhague dos anos 20 e 30. Ele é um pintor reconhecido, enquanto ela faz ilustrações, enquanto tenta encontrar seu estilo nas artes plásticas. Numa tarde, com a ausência de uma modelo, Gerda pede para Einar ajudar a terminar uma tela. Ele coloca meias de seda e sapatos femininos. Para completar, um vestido de saia plissada. O contato com aquela peça desperta algo em Einar. Algo que irá mudar sua vida.

A longa trajetória de Lili Elbe e Gerda Wegener foi resumida para caber num filme hollywoodiano baseado no romance ‘The Danish Girl’, de David Ebershoff, escrito em 2000, que se tornou um Best Seller traduzido em doze línguas. No filme, o amor entre o casal é enfatizado, mas ressaltando que se tornam seres assexuados. Na vida real, o negócio era bem diferente. Assim que o casal se ‘acertou’ com o novo momento de Lili, eles se mudaram para a Paris, onde viveram como duas mulheres, enquanto Gerda se divertia com diversas amantes femininas. Por outro lado, Lili passou anos sem qualquer modelo a seguir enquanto ser humano. O termo ‘transexualismus’ tinha acabado de ser criado pelo médico e sexólogo Magnus Hirschfeld (pioneiro na defesa dos direitos dos homossexuais), contudo, a sucessão de médicos que conheceu a trataram como histérica ou pervetida.

Em 1925, Gerda conheceu o sucesso na Feira Mundial de Paris, transformando-se num dos nomes mais importantes do movimento Art Deco, ganhando duas medalhas de ouro e uma de bronze por suas obras. Além disto, suas ilustrações estavam na La Ve Parisisenne, Vogue, Le Rire e La Baïonnette. Também começou a produzir um belo acervo de arte erótica.

No final da década, Lili fez sua primeira cirurgia (foram cinco no total) de mudança de sexo no Magnus Hirschfeld’s Institute for Sexual Science, em Berlin. Em seguida, ela conseguiu a mudança legal de sua documentação, que acabou anulando seu casamento, pois na Dinamarca não era possível a união entre duas pessoas do mesmo sexo (isto só mudaria em 1989). Mesmo não ‘casadas’, Gerda continuou apoiando Lili – menos na última, que foi feita sem conhecimento.

De fato, a discussão sobre transexualidade é um dos assuntos preferidos da mídia americana, principalmente pelo sucesso da atriz Laverne Cox da série ‘Orange Is The New Black’ (capa da Time em maio de 2014), de polêmica envolvendo o nome de Caitlyn Jenner e da série ‘Transparent’, que trata da vida de um transexual de meia-idade. Agora, colocar uma atriz transexual num papel de destaque numa grande produção de Hollywood, lançada em plena temporada de Oscar, ainda vai demorar. Entenda: Hollywood é uma indústria. De sucessos e de prêmios. Pensa-se cinema pela ótica do lucro. Por mais que, eventualmente, surja algum filme que saia do óbvio, ainda vai demorar alguns anos para um filme com temática assim ganhar o principal prêmio americano. Que, sim, é o objetivo de filmes lançados nesta época do ano! Uma coisa é um ator ou atriz ganhar um Oscar pelo papel de gay, lésbica ou travesti. O mesmo pode acontecer com seu roteiro, agora, para o prêmio principal… Lembre-se de ‘O Segredo de Brokeback Montain’, em 2006, perdendo para ‘Crash’…

Produção sensível

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