Ryan Murphy aposta na rivalidade entre Bette Davis e Joan Crawford em ‘Feud’
Ryan Murphy é um produtor, diretor e roteirista ousado. No final da década de 90, ele lançou a série Popular, que, em formato de comédia adolescente, criticava o mito americano da ‘popularidade’. Ácida, a série teve apenas duas temporadas, mas quem assistiu lembra o quanto era divertida. Em seguida, ele criou Nip/Tuck, que se tornou uma das mais abusadas séries da TV americana. Globo de Ouro de Melhor Série Dramática em 2005, ela teve seis temporadas – as quatro primeiras excelentes, a quinta, fraca e a última, péssima.
Ryan Murphy (à esq.) e David Miller @ Getty
A impactante Glee surgiu em 2009, revolucionando o conceito de séries ‘comédia e musical’ adolescente, apresentando um grupo de loosers ganhando espaço com cantores de um coral. A primeira temporada levou quatro Emmys, incluindo diretor para Ryan, atriz coadjuvante para Jane Lynch (como a icônica Sue Sylvester), ator convidado Neil Patrick Harris e edição de som. No ano seguinte, Gwyneth Paltrow também foi premiada como atriz convidada. No Globo de Ouro, Glee venceu como Série Comédia/Musical em 2010 e 2011, além dos prêmios para atriz e ator coadjuvante (Jane e Chris Colfer). As duas primeiras temporadas foram excelentes, a terceira e quarta medianas, a quinta, fraca e a última, constrangedora.
American Horror Story Asylum @ Divulgação
As séries antologicas American Horror Story provocou muito barulho quando surgiu em 2011. Primeiro trabalho da excelente Jessica Lange numa série da TV, a série ganhou selo de qualidade pela proposta de contar uma estória de terror indo fundo na ousadia, incluindo nudez de Dylan McDermott, doses de sexo e revelando o talento de Sarah Paulson e Evan Petters. Rapidamente, tornou-se um fenômeno da cultura pop. Com o sucesso, ganhou uma segunda temporada ainda mais impactante ao colocar Jessica Lange como uma freira responsável por um hospital psiquiátrico misturando o assunto com um serial killer, relacionamento lésbico nos anos 60 e sequestro alienígena. É considerada a temporada preferida entre os fãs. A terceira temporada era sobre feiticeiras modernas. Teve um excelente começo, derrapou na metade e tomou folego no final. A quarta, ‘Freak Show’, retratava um circo de aberrações. Acertou ao contratar atores portadores de necessidades especiais. Começou bem, mas foi derrapando da metade até o final melancólico. Foi a última participação de Jessica Lange. Foi o banho de água fria para os fãs. Para garantir o interesse na quinta temporada, Ryan contratou Lady Gaga. Virou o ‘assunto’ mais quente do ano. Porém, a estória de vampiros sexys e fantasmas presos numa hotel decadente foi uma decepção. Gaga provou que, apesar de excelente cantora, tem um ínfimo talento dramático. Seu Globo de Ouro de Melhor Atriz em Minissérie ou Filme Feito p/TV botou mais fogo que a premiação é comprada. Cercada de mistério, incluindo a ocultação do nome, a sexta temporada provou que a fórmula esgotou. Um casal relata na TV sua vida quando compram uma casa em Roanoke Island, na Carolina do Sul, onde fenômenos paranormais começam a aparecer. Os dois primeiros episódios são interessantes, o sexto é ótimo (dirigido por Angela Basset), mas a conclusão é ridícula. Ok, esperar lógica numa série de terror é impensável. Contudo, para não perder a direção, o roteiro precisa manter alguma coerência. Aqui, os roteiristas se mostraram relaxados, deixando farpas soltas e conclusões feitas de forma constrangedora. Nem o talento dos atores conseguiu salvar a temporada. Para o bem ou para o mal, a série foi renovada até 2019.
The Hollywood Reporter com alguns atores de The Normal Heart @ Divulgação
The Normal Heart
Em 2014, Ryan adaptou para TV a peça The Normal Heart, apresentada pela primeira vez no circuito Off-Broadway em 1985. Ela chegou à Broadway em 2011, onde fez enorme sucesso de público e crítica. Resultou três Tonys (Melhor Revival, ator e atriz coadjuvantes – John Benjamin Hickey e Ellen Barkin). A estória reproduzia o dramático surgimento do HIV-AIDS entre 1981 e 1984, focando num grupo de gays de Nova York. Ganhou 22 prêmios + 54 indicações. Entre eles, o Globo de Ouro (Ator Coadjuvante para Matt Bomer), o Emmy (Filme Feito para TV e Maquiagem), o SAG Award para Mark Ruffalo de Ator em Filme Feito para TV e o GLAAD (Premiação da Aliança de LGTB americana) de Filme Feito p TV. Sem dúvida, é um dos melhores filmes americanos sobre esse tema.
Sarah Pauslon as Marcia Clark in The People v OJ Simpson @ Divulgação
Ryan voltou a acertar na série antológica (cada temporada é um assunto diferente) American Crime Story: The People v O. J. Simpson. Com farto material em mãos e um ótimo elenco liderado por Sarah Paulson (ganhou todos os prêmios de interpretação na categoria), Courtney B. Vance e Sterling K. Brown, o show retratava os bastidores do julgamento de O.J. Simpson, que parou os Estados Unidos na década de 90 e revolucionou a forma de ver TV nos EUA. Foi um dos melhores programas exibidos em 2016.
Susan Sarandon e Jessica Lange na capa da Entertainment Weekly @ Divulgação
Feud – Bette Davis X Joan Crawford
No dia 03 de maio de 2017, as atenções se voltarão para Feud (rixa, rivalidade ou antiga disputa, numa tradução mais exata do inglês). No mesmo formato de série antológica – uma estória diferente por temporada, a primeira irá retratar os bastidores do filme ‘O Que Terá Acontecido a Baby Jane?, de 1962, que reuniu Bette Davis e Joan Crawford – ícones de Hollywood entre os anos 30 e 40.
Bette Davis e Joan Crawford @ reprodução
Ninguém consegue precisar exatamente o que aconteceu. Na mesma faixa etária, ambas disputavam papéis e atenções. Bette acumulava bons trabalhos na Warner e Joan era a estrela da MGM. Como (todas) as grandes estrelas disputavam espaço na mídia. Tinham personalidades marcantes, mas, fisicamente, eram diferentes. Enquanto Bette era reconhecida pelo talento (e muito senso político pelo direito de atores), Joan vertia beleza e glamour. Tornaram-se rivais. Ferina, Bette falava sobre Joan: ‘Ela dormiu com todos os astros da MGM menos a Lassie’. (Entenda: apesar do nome, Lassie era ‘interpretada’ por cachorros machos’) ou ‘Eu sou tão boa em interpretar malvadas porque eu realmente não sou uma… É por isto que a Miss Crawford sempre interpreta as boazinhas’. Sem medir palavras, Joan respondia que Bette parecia ‘nunca teve um dia feliz – ou noite – em toda sua vida’.
Para interpreta-las, Ryan convidou Jessica Lange (Joan) e Susan Sarandon (Bette), ou seja, atrizes do primeiro time, que farão um duelo de interpretação que irão arrepiar aos fãs de cinema da Era de Ouro de Hollywood. A série também contará com Catherine Zeta-Jones (Olivia de Havilland), Alfred Molina (Robert Aldrich), Judy Davis (Hedda Hopper), Kathy Bates (Joan Blondell) e Sarah Paulsol (Geraldine Page).
Bette Davis e Joan Crawford @ Reprodução
Décadas de rivalidade Feud começa quando Bette e Joan, que estavam na casa dos 50 anos (considerada o fim da carreira para uma estrela de cinema), concordam em dividir a cena num filme de terror de baixo orçamento chamado ‘O Que Terá Acontecido a Baby Jane?’. Bette é a Baby Jane, uma ex-estrela infantil em decadência e à beira da loucura. Joan é sua irmã Blanche, presa a uma cadeira de rodas. É um jogo de terror psicológico com uma grande reviravolta.
Jessica Lange e Susan Sarandon em Feud @ Reprodução
As filmagens foram um show à parte. Joan exigiu um camarim maior. Bette retrucou dizendo que camarins grandes não garantiam bons filmes. Como viúva do presidente da Pepsi, Joan pediu para instalar maquinas da bebida no estúdio. No dia seguinte, Bette mandou instalar máquinas da Coca-Cola. Numa das cenas no qual Jane maltrata sua irmã, dizem que Bette realmente chutou Joan, alegando que era para ‘dar maior realismo’ a cena. No dia seguinte, Joan colocou pesos em suas roupas para a cena no qual Jane teria que arrastar Blanche pelo chão. Resultado: Bette travou a coluna, que a obrigou a se ausentar das filmagens por três dias.
Bette Davis e Joan Crawford @ Reprodução
O filme foi um surpreende sucesso de bilheteria. Bette foi indicada ao Oscar. Joan começou uma campanha contra ela, a ponto de ligar para outras indicadas se oferecendo para receber ao prêmio no lugar dela – caso acontecesse algum imprevisto. Pois é… No dia da premiação, Bette perdeu para Anne Bancroft por ‘O Milagre de Anne Sullivan’. Ela não pode ir. Joan foi representa-la. Sua imagem entrou para história.
Joan Crawford no Oscar 1963, ao lado e Gregory Peck e Sophia Loren
A coisa não terminou aí. Com o sucesso de “Baby Jane”, o diretor planejou uma espécie de sequência chamada ‘Com a Maldade na Alma’, novamente com as duas atrizes. Elas assinaram contratos, porém, antes de começar a rodar, Joan passou mal e teve de ser internada. Quando souberam que ela não poderia voltar ao set, resolveram achar uma substituta.
Os produtores chamaram Vivien Leigh, mas Bette aceitou. Ela não estava interessada em trabalhar com a mulher que havia roubado o papel que ela tanto quis – o de Scarlett O´Hara em ‘E o vento levou’, e exigiu outra atriz. O papel acabou nas mãos Olivia de Havilland, companheira de cena de Vivien no clássico de 1939. Nas fotos publicitárias, Davis aparecia segurando uma Coca-Cola.
Elenco de ‘Com a Maldade na Alma’ tomando coca-cola @ Reprodução
A briga terminou em 10 de Maio de 1977, quando, Joan faleceu aos 73 anos. Bette declarou: ”Não se deve falar mal de quem já se foi, só se deve falar coisas boas, como: ‘Que bom, Joan Crawford morreu!’”.
Primeiro Portal de Estilo de Vida de Campinas e Região Metropolitana, MONDO MODA foi criado em 11/2007 pelo jornalista, editor de estilo e produtor de audiovisual Jorge Marcelo Oliveira.
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